Depressão e o posicionamento masculino e feminino

Freud, no início do século passado, afirmou que os humanos desenvolvem disposições ativas e passivas, sendo que o ativo é característico do masculino enquanto que o passivo é expressão do feminino. Sabemos que atualmente as condutas, ativas ou passivas, se distribuem sem distinção e em diferentes proporções entre homens e mulheres. Mas há uma forma de depressão que vincula as condições ativa e passiva em relação à profissão. 

Uma mulher, dona de casa, começou a sentir uma intensa depressão. Sentia-se escravizada por seu marido e pelas atividades do lar. Outro caso, também de depressão, foi o de um arquiteto que, após o falecimento de seu pai, recebeu de herança uma empresa de considerável porte, a qual foi obrigado a dirigir. A depressão, que chegou a paralisá-lo, intensificava-se toda vez que devia admitir ou demitir funcionários. A mulher, tempos depois, demonstrou extraordinária capacidade no ramo de imóveis e sua depressão desapareceu. O arquiteto tornou-se artista plástico e sua “doença” ficou vinculada apenas a situações que lhe exigiam uma agressividade para a qual não se sentia capaz. 

É bom frisar que todos nós temos as disposições ativa e passiva. Em algumas pessoas, uma é mais aparente e a outra reprimida. O arquiteto não dispõe de sua agressividade, apesar de ser esse um atributo tipicamente masculino: por isso deprime-se ao ver-se forçado a utilizá-la. A mulher não pode exercer suas tarefas em casa, classicamente femininas, sem sentir-se submetida à violência interna e deprimir-se.

Como a sociedade exigiu durante séculos que os homens fossem ativos e as mulheres se submetessem a seus pais ou maridos, vemos que os protagonistas desses exemplos colocam-se de maneira inversa ao que seriam as expectativas convencionais. Dessa forma, quando um ser humano, homem ou mulher, é obrigado a contrariar suas disposições, isso gera efeitos e um deles é a depressão.  

As profissões têm sexo, no sentido de que podem ou não harmonizar com as disposições inconscientes do indivíduo. Quando a equação sexo-profissão se inverte, o resultado mais provável é a depressão. Fazer o que não se deseja é uma forma de violência. Não escutar as razões do inconsciente gera depressão e ela é uma das principais causas de suicídio no mundo. Os alarmes sintomáticos estão sinalizando uma necessidade de mudança.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp