De papel a clique

A música, por ser algo intangível, apenas sobrevive quando existem registros de sua existência. A música clássica, por exemplo, só existe por causa das partituras. Pode-se dizer o mesmo das músicas em geral. Um dos primeiros empregos de Tom Jobim era o de transcrever para o papel as músicas compostas e cantadas por artistas que não tinham formação musical.

Já o registro fonográfico teve uma história mais recente. O primeiro sucesso comercial foi o disco de 78 rotações que surgiu junto com o gramofone em 1888 nos Estados Unidos. Permitiam a gravação de apenas uma música de cada lado. Em 1948 surgiram os discos de vinil ou LP. Já era possível gravar de 40 a 60 minutos. Muitas vezes, a capa dos discos eram verdadeiras obras de arte. 20 anos depois, vieram as fitas cassetes. Executadas em toca-fitas, permitiam gravar e regravar músicas dos LPs, shows e outros eventos sonoros. Na média, cabiam 60 minutos de música.

Em 1985 surgiu o CD-ROM ou simplesmente CD. A capacidade era bem maior, de 80 a 90 minutos. Os videolasers não sobreviveram muito tempo no mercado. As mídias evoluíram para o DVD e o Blue-Ray que também eram uma evolução da fita de vídeo VHS.

Antes de entrar na era digital, cito os campeões de venda de discos. Até então, venderam um bilhão de discos cada um: The Beatles, Elvis Presley e Michael Jackson. Depois, empatados, vem Madonna e Led Zepelin com 300 milhões cada. Numa faixa entre 200 e 300 milhões, tem dez artistas. Destaco Elton John e os conjuntos ABBA, Pink Floyd, Roling Stones e Queen. Tenho discos e CDs de todos eles.

Em 2000 surgiu o formato digital em MP3. No mesmo ano, apareceu o pen drive. Isto popularizou muito a música. O mercado fonográfico como conhecíamos acabou. A pirataria, antes um processo quase que artesanal, assumiu novas proporções. Surgiram inúmeras plataformas de armazenamento e distribuição de músicas. O YouTube surgiu em 2005. Nesta plataforma, os recordistas são uma música infantil com oito bilhões de acessos e a música “Despacito” (2017) de Luís Fonsi, com mais de sete bilhões de visualizações. Com mais de dois bilhões e meio tem 30 canções. A música “Ai se eu te pego” do cantor Michel Teló atingiu um bilhão de acessos.

Na maior das plataformas de música, o Spotify, tem 40 milhões de músicas à disposição dos assinantes. Não fiz a conta mas acho que não dá para ouvir tudo numa vida. Os brasileiros mais ouvidos são o DJ Alok, a cantora Anitta e a sertaneja Marília Mendonça. O recordista mundial de acessos é do rapper canadense Drake, figura da qual nunca tinha ouvido falar antes. Atingiu impressionantes 50 bilhões de músicas “baixadas” pelos ouvintes. Verifiquei quem são os outros mais acessados. Não tenho discos, CDs ou MP3 de nenhum deles. Quem já ouviu o som de uma vitrola me entende!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.