De João Celestino da Costa à Dr. Alcy Gigliotti

Um dos principais meios de se desenvolver o espírito crítico e praticar a cidadania é ter acesso à informação.

Atualmente, com o grande advento da globalização a partir dos anos de 1980, vários são os meios que nos permitem acesso instantâneo a informações de qualquer parte do mundo.

Porém, em épocas passadas, um dos principais meios de informação eram os jornais impressos, e mesmo com todo o desenvolvimento digital de nossa era, ele ainda contempla um amplo espaço dentro de nossa sociedade.

Catanduva já contou, em épocas passadas, com vários jornais impressos que circulavam e traziam informação para a população catanduvense. Um deles era o jornal “A Cidade”, que passou a circular em nossa cidade desde o ano de 1930.

Os primeiros jornais

Os primeiros jornais de nossa cidade tiveram, além do caráter informativo, a busca de ideais defendidos pela editoria dos referidos jornais e pela população em geral.

O primeiro jornal da comunidade foi o “O Município”, com primeiro número em 10 de março de 1916, editado numa oficina tipográfica de Araraquara. De propriedade do Sr. Deodato Vieira da Silva, surgiu em prol da luta pela emancipação político-administrativa destes domínios. A partir de 28 de junho de 1917, o citado órgão passou a ter oficina própria, possuindo como redator o Sr. Pedro Souza Brito.

A partir de 14 de abril de 1919, “O Município” mudou de nome, passando a denominar-se “A Comarca”, também com o objetivo de obter a jurisdição judiciária de Catanduva, o que de fato aconteceu em 1919. Era diretor desse órgão o Sr. Ceciliano José Enes e redator o Sr. Reinaldo Gonçalves.

Era muito comum nesta época a utilização dos jornais como forma de expressão política, deixando um pouco de lado a questão da imparcialidade, o que, infelizmente, até o dia hoje ainda acontece em alguns órgãos de imprensa.

Exemplo disso, podemos citar o caso da criação do jornal “A Renascença”, que defendia o lado político do Dr. Tourinho Bittencourt, criado para “bater de frente” com o jornal “A Comarca”, que dava apoio ao Sr. Adalberto Bueno Netto.

Interessante também notar que a ala “Tourinhistas” além de fundar outro jornal, criaram um outro clube: o “Catanduva Clube”, para se contrapor ao “Clube Sete de Setembro”, que em essência era em sua maioria “Nettista”.

“A Cidade”

O jornal “A Cidade” passou a circular em nossas terras no dia 02 de março de 1930, e possuía em seu formato a medida de 69X59 centímetros. Era um jornal bi-semanal, circulando às quintas-feiras e aos domingos. Foi somente a partir de 22 de dezembro de 1935 que o referido jornal passou a ser diário.

Seu primeiro diretor proprietário foi o Sr. João Celestino da Costa, que tinha como redatores o Dr. José do Rosário e Carlos Machado, que trabalhou muitos anos neste jornal.

Carlito, como era chamado, tinha uma particularidade ao escrever, de acordo com Lecy N. Pinotti, em texto publicado na revista “Feiticeira” de setembro de 1987: “(...) batia na máquina de datilografia com apenas o dedo indicador da mão direita (...) Nem por isso deixando de ser fértil produtor de laudas e laudas diárias”.

A partir de 1942, com a morte de seu proprietário, o Sr. Nair de Freitas adquiriu o jornal, primeiramente em forma de sociedade, permanecendo como proprietário até 1985, ano de sua morte.

De acordo com pesquisas realizadas em jornais e revistas antigas de nossa cidade, vários foram os relatos de pessoas que diziam que a imprensa de Catanduva poderia ser divida em “antes de Nair e após o seu advento.”

O jornal “A Cidade”, na época da fundação de “O Regional” (1971), era um jornal que também expressava o seu ponto de vista político, que era favorável ao governo, e como tal, não abria espaço para a oposição. Daí a necessidade do grupo opositor de criar um meio de divulgar suas concepções e por iniciativa do Dr. Warley Agudo Romão acabou nascendo “O Regional”.

O jornal “A Cidade” teve seu último exemplar publicado em 25 de outubro de 1991, tendo o Dr. Alcy Gigliotti à frente, que mesmo com a intenção de reerguê-lo, não obteve êxito nesta empreitada.

Nair de Freitas

Um dos nomes mais lembrados e importantes do referido jornal “A Cidade” é o jornalista Nair de Freitas.

Nascido na cidade de Pederneiras, em 16 de outubro de 1913, veio residir em Catanduva, proveniente da cidade vizinha de Pindorama, no ano de 1936, assumindo a direção da redação do jornal “A Cidade”.

Com a morte do proprietário do jornal, Sr. João Celestino da Costa, em 1942, Nair adquiriu o estabelecimento em sociedade com os Srs. Geraldo Corrêa (professor e escritor do interessante livro “Minhas piadas dos outros”, que retrata os mais diversos casos engraçados de catanduvenses) e Carlos Merighe, dando origem à firma “Freitas, Corrêa e Merighe”.

Essa sociedade durou aproximadamente uns três anos, onde em 1945 passou a ser de propriedade exclusiva de Nair de Freitas.

Um dos grandes orgulhos deste jornalista foi a de ter sido o seu jornal o primeiro a dar a notícia da morte de Getúlio Vargas, em 1954, fato este que foi destacado pelo New York Times na época.

Além das funções desempenhadas nesse jornal, Nair ainda atuou na Rádio Difusora, sendo considerado um dos fundadores, bem como foi chefe de imprensa da SUNAB.

Foi ele também o criador do slogan mais conhecido de nossa cidade, o famoso “Catanduva Cidade Feitiço”, lá pelo início da década de 1940, onde pretendia demonstrar toda a magia que envolvia os visitantes.

Por motivo de doença, por volta do final da década de 1970 acabou se afastando da vida jornalística, falecendo em 22 de julho de 1985, deixando um legado de informações e trabalho sério.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

O primeiro jornal que surgiu em nossas terras foi “O Município”, que lutava pela emancipação político-administrativa deste povoado. Na foto, Clube Sete de Setembro, onde populares comemoravam a instalação do município em 14 de abril de 1918

Nair de Freitas foi casado com D. Carmy de Freitas e tiveram os filhos José Carlos Corrêa de Freitas e Iara Lúcia de Freitas Silva. Nesta foto, inauguração do Teatro Municipal de Catanduva, em 18 de janeiro de 1981. Na foto, da esquerda para a direita: Tuzinha Rezende, Carmy de Freitas, Ediana Brandi Curtú, Marli Ferreira, Agudo Romão (prefeito na época) e Waldomiro Bispo Damasceno (vereador)

Foto tirada durante o carnaval no Clube de Tênis de Catanduva. Na foto, da esquerda para a direita: Aparecida Fernandes, Eurides Natália Fernandes e seu esposo Onélio de Freitas (jornalista), Newton Carvalho (locutor), Nair de Freitas e sua esposa Carmy de Freitas, que era colunista social

Um dos exemplares do jornal “A Cidade”, existente no acervo do Centro Cultural Padre Albino, datado de 29 de março de 1931. O jornal circulou até 25 de outubro de 1991

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.