De genialidade, razão e bondade

A genialidade, ao produzir, só pode tomar dois rumos: o amor ao próximo ou a misantropia. O gênio é o homem que mais e melhor compreende a Criação e, justamente por isto, é quem acumula informações suficientes para amá-la (em si e nos outros) ou odiá-la (em si e nos outros). Temos aí exemplos, extremamente polarizados, que vão de G. K. Chesterton a J. D. Salinger. Ambos produziram beleza tornada arte -- arte refinada, promotora da Alta Cultura --, mas o primeiro descobriu a mais profunda alegria que a realista esperança cristã infunde no coração daqueles que abraçam a Cruz; enquanto o segundo medrou seu caminho através daquele niilismo que quer por nas portas das maternidades o “Lasciate ogni speranza voi che entrate” dantiano.

A condição de “intelectual” não traz consigo qualidades morais elevadas e muito menos conversão espiritual. Albert Einstein era um homem naturalmente bom, mas não precisaria ser bom para criar a famigerada fórmula da equivalência massa-energia (E=mc²). Adolf Hitler, por sua vez, era um tenebroso gênio quanto às habilidades retóricas (convenceu mares humanos, como que os seduzindo pela hipnose -- daí, ter sido real e literalmente um “führer”) e por meio delas arrastou a culta Alemanha à barbárie mais brutal e cavernesca. Se bom cristão, Hitler poderia ter sido o Billy Graham bávaro.

Ser erudito é fácil: difícil é ser santo. Acumular e criar conhecimentos não é tarefa tão hercúlea quanto acumular e desenvolver virtudes. Encher-se de livros, devorar bibliotecas inteiras, escrever luminosos trabalhos filosóficos e científicos, compor elevados poemas que ecoarão nas mais sensíveis almas das gerações futuras não chega sequer perto da silenciosa labuta que é o lapidar dos afetos desordenados, enfim, que é o “cortar na própria carne” para fazer triunfar o espírito. Discernir o Universo material é pouca coisa comparada à tarefa de discernir o próprio “eu” imaterial. Sábios e simples, gênios e medíocres, todos!, têm a capacidade do autoconhecimento -- conhecer-se e, com isso, mudar. Afinal, possuir determinadas habilidades e talentos não constitui condição sine qua non para entrar na Jerusalém celestial pelas portas.

Neste sentido, a Razão, quando utilizada (porque ela é faculdade e instrumento do intelecto) com a coerência e com o desapego ideológico capazes de impedir sua desvirtuação em “ismos” (o Racionalismo, sobretudo), necessariamente conduzirá o indivíduo àquela “beleza tão antiga e tão nova” da qual falou Santo Agostinho. A Razão será uma via lateral que levará ao único e reto Caminho; será uma minúscula chama que, no fim do longo túnel de escuridão, conduzirá à luz da Verdade; será a vereda existencial que dirigirá os passos do homem à Vida. A Razão é um bem que pode produzir um homem bom, um gênio bom. Contudo, se instrumentalizada pela vaidade, pelo ódio e pelo egocentrismo, enfim, pelo mal, produzirá um homem mau, um gênio mau.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor