Dando milho aos pombos

No Brasil, existem 2602 ocupações cadastradas no Ministério do Trabalho. É impossível catalogar tudo. Ocupações surgem todos os dias assim como profissões desaparecem sem deixar vestígios.

Sempre fomos acostumados a associar o emprego com a atividade econômica, que sem dúvida, é o motor principal de um país. Geralmente esta ideia traz consigo apenas a noção de número. Por exemplo, no Brasil existem aproximadamente 103 milhões de trabalhadores. 90 milhões estão empregados e 11 milhões desempregados. O que vai alterar esta proporção é a atividade econômica. Por si só!

Mas, o que mais impactará na qualidade e nas mudanças do mercado de trabalho sem dúvida nenhuma serão a robótica, novos programas de computador e a inteligência artificial. Isto sempre existiu, ou seja, a evolução tecnológica substituindo o ser humano e o trabalhador procurando uma nova ocupação. Só que agora está mais acelerado. E pior, as novas frentes de trabalho não estão absorvendo o enorme contingente de trabalhadores substituídos por máquinas.

Quando eu era criança, era um sonho de consumo de muitos trabalhar no Banco do Brasil ou ser professor concursado do estado. Já adolescente, quando o ensino superior ainda não era massificado, escutava que o diploma era uma garantia de emprego. Na mesma época, com a expectativa de vida ainda abaixo dos 70 anos, era um plano de vida chegar à aposentadoria e aproveitar ao máximo os poucos anos que o aposentado tinha pela frente.

Tudo mudou. Hoje, a população vive mais. É cada vez mais frequente passar dos 80. E o que eram poucos anos, agora são 20, 30 ou mais anos de aposentadoria. Este segmento da população ainda não teve seu potencial equacionado. Só sei que são chamados pelo governo de “inativos”. Mas ainda com saúde em bom estado geral. Tanto que boa parte ainda continua trabalhando depois da aposentadoria.

Um estudo da UNB (Universidade Federal de Brasília) estima que se as empresas brasileiras se automatizassem apenas com as possibilidades de robôs e programas de computador já acessíveis no mercado, 54 % dos empregos formais seriam fechados. Coisa de 30 milhões de postos de trabalho. Até 2026 tem mais de 90 % de chances de serem extintas as profissões de alinhador de pneus, gerente de almoxarifado, leiloeiro, cobrador de ônibus, torrador de café e taquígrafo. Por outro lado, segundo o mesmo estudo, tem baixo risco de substituição os técnicos de enfermagem, estatísticos, oftalmologistas, restaurador de obras de arte, gerente de recursos humanos e fonoaudiólogos da área educacional.

Isso tudo acontecendo e logo aparecerá um robô do tipo “Diretor 3.0” que fará meu trabalho muito mais rápido. E melhor. Pensando bem, acho que está na hora de eu estudar o ramo da panificação. Foi de onde vim. É possível que eu acabe lá!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.