Vivemos sob o domínio de um novo oráculo, uma entidade invisível e silenciosa. Não fala em voz alta, não tem rosto, não tem moral. Seu nome é algoritmo.

Ele não deseja sabedoria. Ele quer vício.
Ele não busca verdade. Ele anseia por viralização.

O palco do mundo moderno não é mais a praça pública ou a biblioteca — é uma roleta digital que gira segundo regras que ninguém compreende, mas todos obedecem. E o que se premia nesse cassino de telas? Não é o pensamento. Não é a razão. É o espetáculo grotesco. A infâmia. O riso fácil, mecânico, desprovido de sentido.

Explicações? Ignoradas.
Orientações úteis? Esquecidas.
Conhecimento? Silenciado, empurrado para as margens como um velho louco falando sozinho numa estação vazia.

Enquanto isso, corpos reluzentes dançam, pulam, posam, vendem-se — e são aplaudidos. Não porque são arte, mas porque são iscas. Iscas para o seu tempo, sua atenção, sua alma. O mercado sorri. O público ri. E o algoritmo lucra.

E você? Você acredita ser livre?

Você se olha no espelho azul da tela e pensa estar decidindo — mas são suas decisões que já foram decididas por você, com cálculos, com previsões, com manipulação. O que você vê foi feito para te prender. Para te anestesiar. Para te tornar obediente.

O novo circo romano está aqui. Só que agora, os leões são de LED, e os gladiadores dançam de sunga. E o público? Clica. Curte. Compartilha.

Mas eu pergunto:
Isso é progresso? Ou é declínio com filtro de beleza?

O conhecimento verdadeiro não tem trilha sonora nem efeito especial. Não viraliza. Não seduz. Mas salva. E por isso, é descartado.

O mundo paga mais por um corpo do que por uma ideia. Mas não se engane: não é o vendedor o culpado — é o comprador.
É quem clica.
É quem aplaude.
É quem se deixa hipnotizar por uma tela de 6 polegadas enquanto o mundo real arde em silêncio.

Senhoras e senhores, acordem.
O espetáculo acabou.
Apaguem as luzes.
E olhem ao redor.
A realidade ainda está aqui — mas está ficando impaciente.

Gregório José

Jornalista, radialista e filósofo