Currículo do dinheiro
No Brasil, quem deseja colocar qualquer coisa em pé deveria ser chamado de gladiador e não de empreendedor. Você é jogado na arena, no meio dos leões famintos e tenta não ser devorado. Parte da torcida fica berrando o tempo todo com os polegares para baixo. Prova disso, é o histórico da economia brasileira.
O Brasil adotava o Cruzeiro com centavos, instituído por Getúlio Vargas em 1942. Era assim quando nasci, em 1964. Neste ano, Castelo Branco cortou os centavos. Ele, em 1967, mudaria a moeda para o Cruzeiro Novo. Os centavos voltaram. Em 1970, Emilio Garrastazu Médici voltou para o Cruzeiro. Em 1984, João Batista Figueiredo tirou os centavos. Em 1986, José Sarney instituiu o Cruzado e os centavos voltaram. Em 1989, Sarney instituiu o Cruzado Novo. Em 1990, Fernando Collor de Melo restituiu o Cruzeiro. Em 1993, Itamar Franco instituiu o Cruzeiro Real e por fim, em 1994, o Real, moeda que está em vigor no país até hoje. Dez moedas diferentes, com seis nomes diferentes, instituídos por sete presidentes diferentes.
Sobre planos econômicos, tudo começou com o plano Delfim Um, em 1979, o Dois em 1981 e o Três em 1983. O presidente era Figueiredo. Com Sarney teve o Plano Dornelles em 1985, o Cruzado em 1986, o Cruzado Dois no mesmo ano, o Plano Bresser em 1987, o Plano Feijão com Arroz em 1988 e o Plano Verão em 1989. Com o Collor teve o Plano Collor em 1990, o Plano Eris no mesmo ano, o Plano Collor Dois em 1991 e o Plano Marcílio no mesmo ano. Finalmente, em 1994, o Plano Real de Itamar Franco. Saldo: 14 planos econômicos, quatro presidentes e oito ministros da fazenda.
Sobre inflação, sei que é afetada por crises de todos os tipos: políticas e econômicas. Por exemplo, a alta do petróleo em 1979 arrebentou o Brasil na década de 1980. No final da década, teve mês com 86% e ano com quase 2000% de inflação. Em abril de 1990 a inflação acumulada dos últimos doze meses tinha sido 6821%. Lembro-me que fui comprar um escapamento de Fiat 147 pela manhã. Tinha esquecido o talão de cheques. Voltei depois do almoço. O preço do escapamento já tinha subido. Arrepio quando escuto falar de inflação.
Neste mês, o Plano Collor fez 35 anos. Bloqueou o dinheiro da caderneta de poupança, dos CDBs, dos fundos de renda fixa, valores em conta corrente e investidos no overnight, uma aplicação que rendia de um dia para o outro. O bloqueio durou 18 meses. A devolução foi em 12 meses. O governo imaginava que um choque na oferta de dinheiro impactaria em uma queda imediata da inflação. Durou pouco. A inflação voltou. Todo mundo perdeu dinheiro.
Dizem metaforicamente que o dinheiro é um ser vivo. Então deve ser por isso que no Brasil, o dinheiro não tem história, tem currículo! Eu queria dizer folha corrida, mas não pode. É muito mal gosto falar dessas coisas.
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