Curando feridas históricas com consciência

Novembro, com a celebração do Dia da Consciência Negra no Brasil, oferece uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre como raça e saúde mental se entrelaçam.

O racismo, seja estrutural, institucional ou interpessoal, causa impactos devastadores na saúde mental. Pesquisas revelam que pessoas negras estão mais expostas a situações de violência, preconceito e discriminação, fatores que podem desencadear quadros como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, a falta de representatividade em espaços de poder e os estigmas associados à cor da pele contribuem para a sensação de invisibilidade social, alimentando a baixa autoestima e o isolamento.

É crucial lembrar que o sofrimento mental da população negra não surge isoladamente. Ele está profundamente enraizado em séculos de exclusão, escravização e negação de direitos básicos, como educação, saúde e moradia. Esse legado histórico continua a se refletir nas desigualdades estruturais que marcam a sociedade atual.

Nesse contexto, movimentos sociais, coletivos negros e grupos de discussão emergem como espaços seguros para compartilhar experiências e enfrentar o racismo de forma coletiva. Paralelamente, promover a educação antirracista desde a infância é uma estratégia poderosa para combater preconceitos e construir uma sociedade mais inclusiva.

Reconhecer a força e a resiliência da população negra ao longo da história também é uma forma essencial de reafirmar sua contribuição para a sociedade e resgatar o orgulho identitário. Esse reconhecimento fortalece a autoestima e gera uma nova narrativa que valoriza a vivência negra.

Além disso, são necessárias políticas públicas que garantam o acesso universal a cuidados de saúde mental de qualidade. A criação de programas específicos que atendam às demandas da população negra, considerando as interseccionalidades de gênero, classe e raça, é um passo essencial para a equidade.

A saúde mental e a Consciência Negra são temas que caminham lado a lado na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Reconhecer as cicatrizes deixadas pelo racismo é tão importante quanto valorizar a força e a resiliência da população negra. Somente com um olhar integrado e ações concretas será possível superar as barreiras históricas e construir um futuro em que todos tenham pleno direito ao bem-estar mental e à valorização da vida.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp