Cultura na balança
Há quem acredite que Lady Ga Ga tenha exagerado em sua sentença, mas a cantora pop mundialmente conhecida está coberta de razão, infelizmente. Vivemos um momento de inversão de valores e um desvirtuamento conceitual onde pode ser quase impossível distinguir o significado de cada coisa ou de estabelecer prioridades.
Não se trata de elitismo e sim de uma reflexão sobre a devida importância da arte em nossas vidas. Já afirmava o grande gênio das artes Leonardo Da Vinci que "a simplicidade é o mais alto grau de sofisticação", ou seja, cultura não é pertinente a uma determinada classe social ou público específico. Cultura abrange e acolhe a todos. Intelectualidade nem sempre vem acompanhada de cultura, enquanto podemos encontrar alto grau de vivência cultural onde não há política e investimento formativo. É próprio do povo. Cultura é a riqueza de um povo em suas expressões mais autênticas e originais.
Voltando a questão levantada acima, se não sabemos mais diferenciar o que realmente cada coisa significa e qual sua relevância, fica muito difícil reconhecer a nossa identidade cultural. Uma sociedade que não fomenta e investe em cultura se perde, não se define, enfim, não tem personalidade.
Quando a balança iguala no mesmo nível tão distintos interesses, equiparando tudo – muito em função do poder da mídia e do dinheiro –, enfraquecemos nossa possibilidade de crescimento porque estamos rasos, vazios de conteúdo.
E tudo começa na infância. A criança nasce naturalmente artista, criativa, espontânea, no entanto, com o passar do tempo a sociedade a formata desestimulando e anulando a possibilidade de expandir seu talento natural. Não estamos afirmando aqui que todos devem ser artistas. Não. Profissionalizar-se como artista é outra questão.
Essencial é ressaltar a importância da arte e da criatividade em nossas vidas, independentemente do caminho profissional que seguirmos. Mais do que nunca, em qualquer setor de atuação, a criatividade faz enorme diferença, por isso reafirmamos que cultura é fundamental na formação do ser humano. É o alicerce na construção do indivíduo, fortalecendo-o em seu crescimento, nas suas escolhas, enfim, em sua identidade.
O excesso de informações do nosso tempo, em escala extremamente acelerada, desfoca o olhar e o entendimento sobre os detalhes. Nos dispersamos em meio a elas e perdemos o foco do que realmente importa. E o que realmente importa?
Há diferença entre fast-food e Arte? Se a dúvida permanece, temos um grave problema em mãos. A cultura é o alimento que sacia toda a fome e sede de conhecimento, possibilitando crescimento, entendimento e uma sólida consciência humana, social e política. Assim teremos uma sociedade mais consciente da sua identidade e do seu valor, e que não se rompe tão facilmente diante do efêmero, do modismo e do consumismo desenfreado e vazio.
Tudo tem seu valor, seu momento e sua importância. Contudo, se não sabemos distinguir o peso de cada coisa, estaremos fadados a vivenciarmos uma eterna fome, onde nada nos satisfaz.
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