Crime da mala, a verdadeira história - Parte I

A expressão crime da mala é muito famosa, mas muitos talvez não conhecem a sua origem. Fato é que o crime de homicídio ocorrido em 1928 foi o primeiro de grande repercussão a ser julgado pelo tribunal do Júri do TJ/SP. O delito consistiu no assassinato de uma mulher por seu marido e foi descoberto após a mala com o corpo da vítima ser despachada em um navio a caminho da França. Na década de 1920, José Pistone, um comerciante de 31 anos que buscava firmar sociedade com um primo no Brasil, conheceu Maria Féa, de 21 anos, durante uma viagem de navio com destino à Argentina. Os jovens iniciaram um relacionamento e se casaram, estabelecendo residência no Brasil. Após oito meses de casamento, em 4 de outubro de 1928, devido a uma discussão, José assassinou a esposa no apartamento localizado à rua Conceição, 34, em São Paulo/SP. O desentendimento, segundo podcast produzido pelo TJ/SP, deu-se porque Maria descobrira que José pretendia aplicar um golpe financeiro no primo, já que não tinha condições para se tornar sócio do negócio de secos e molhados do parente. Então, ela decidiu escrever uma carta à sogra, revelando os planos do marido. Enfurecido, José estrangulou a esposa. Sem saber o que fazer com o corpo, após um dia, decidiu desmembrá-lo e colocá-lo em uma mala. A ideia inicial era desfazer-se da mala no mar. Mas, José concluiu que seria melhor despachá-la no porto de Santos, no navio Massiliá, com destino à França. Em razão de um incidente com as bagagens na embarcação, o baú despachado por José se danificou e um cheiro muito forte e um líquido escuro vazaram, tornando a mala suspeita. Dessa forma, o corpo de Maria, com as pernas cortadas e o pescoço quebrado, foi descoberto. Também foi constatado que ela estava grávida de seis meses. Em um primeiro momento, o delegado Armando Ferreiro da Rosa foi o responsável pela investigação. No baú, uma etiqueta indicava que a bagagem fora despachada em São Paulo, via trem. A polícia conseguiu localizar o motorista de caminhão que levou a bagagem da estação até o porto de Santos/SP. Também foram inquiridos alguns carregadores do porto. Um deles revelou que indicara uma pensão para que José passasse a noite, já que o suspeito estava acompanhando o envio da mala e o navio só sairia no dia seguinte. Na pensão, José havia se registrado com o nome de José Russo. Esperando que o suspeito retornasse de Santos para São Paulo, a polícia o aguardou na estação, mas José não embarcou. A partir de então, a investigação foi encaminhada para São Paulo, sob o comando do delegado Francisco de Assis Carvalho Franco. Nesse momento, houve ampla repercussão midiática e um comerciante reconheceu a corda e a mala divulgadas em fotos nos jornais, pois as havia vendido para o suspeito dias antes do crime. O vendedor foi à polícia e indicou o endereço no qual tinha entregado os objetos. Jornal Folha da Manhã, de 9 de outubro de 1928, noticiando o crime. (continua na próxima edição)

Fonte: https://www.migalhas.com.br/quentes/394108/

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.