Corre e olha o céu!

Os antigos olhavam admirados para o céu. Sobretudo à noite, quando o brilho das estrelas pode ser melhor enxergado, os povos dos séculos anteriores aos dois últimos paravam os afazeres a fim de observar o mundo celeste, com as cadências e evoluções dos meteoritos e com a dança demorada e algo fixa das órbitas dos astros maiores. O céu estarrecia por sua distância e vastidão. Aliás, como quase tudo que é intocável, o firmamento era, consequentemente, objeto de cultos e de especulações filosófico-teológicas. A distância sempre cria enredos que dão existência a seres inatingíveis: os deuses nunca estão presentes no aqui-e-agora, mas inacessíveis no Monte Olimpo, na Constelação de Órion, no Nanda Devi ou em Valhalla. É por isto que a visão física mas inacessível de algo que suposta e misteriosamente guarda o metafísico é tão poderosa.

Olhar para o céu e por ele ansiar demasiadamente pode sim ser fuga da realidade. Quando nosso lugar no mundo se torna molesto ou triste ou entediante, é psicologicamente natural se refugiar nas coisas do além-Terra. A arte das religiões está cheia deste sentimento de correr para o alto astronômico: os mórmons, por exemplo, ainda cantam “If You Could Hie to Kolob!” / “Se você pudesse fugir para Kolob!” (uma estrela mítica). A arte dos céticos, agnósticos e ateus, idem: o conceito do “Pale Blue Dot” / “Pálido ponto azul” (A Terra, vista à distância do espaço, segundo uma expressão de Carl Sagan), por exemplo, foi deturpado, perdeu a conotação de “lar especial” e se transformou em fuga futurista, como se a Terra fosse uma prisão a ser abandonada porquê nossa claustrofobia planetária exige ir mais além [assistam a este filme: “Prometheus” – 2012] do que qualquer passeio já dado pelo telescópio Hubble. No entanto, olhar para o céu não precisa ser fuga da realidade. Pode e deve ser motivo de inspiração e ânimo capazes de dar sentido à vida.

Retornemos ao início da conversa: os antigos olhavam admirados para o céu... Com isto, quero dizer que em regra o homem moderno não olha para o céu. Ele está obcecado com as opiniões dos doidos varridos do History Channel e dos cientistas da Nasa ou da Divisão de Astrofísica do MIT, que variam entre os cientificismos da

Astrologia e os misticismos da Astronomia. Mas ele não sai para fora de casa depois da meia-noite para observar as estrelas que a atmosfera poluída ainda permite ver. Fala-se muito sobre o céu. Olha-se pouco para o céu.

E o céu é tão importante para nossa saúde psíquica... Importante, inclusive, para a formação da nossa imaginação e ética. Não foi à toa que Kant escreveu: “Duas coisas enchem a alma de uma admiração e de uma veneração sempre novas e sempre crescentes, à medida que a reflexão se aplica com mais frequência e constância: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim.”

Chega por hoje. Só deixo este conselho, parafraseando Cartola: “Corre e olha o céu, que a lua vem trazer boa vida!”

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor