Conversa com o Destino

 

Aquele não era o momento, nem o local. Aquele casal nem mesmo combinava com um pronto-socorro do SUS. Era instruído e bem apessoado. No Brasil, seja pelo péssimo atendimento do setor público ou por puro preconceito, rico sempre paga plano de saúde. 

Mas, pelo visto, não sendo aqueles bondosos senhores uma aparição, eles optaram – naquela noite quente – em dar um pulo rápido num hospital para receber alguma medicação. Estavam tranquilos. Nem parecia ser um caso de urgência. Quem sabe? 

O que sei é que, numa conversa razoavelmente rápida, eles mexeram com meus pensamentos. Ela, de nome nada comum, chegou como quem não queria nada, fez duas ou três perguntas sobre o motivo de eu estar ali e decidiu aconselhar um estranho. 

Naquela conversa, ela falou sobre o verdadeiro valor da vida, a velocidade com que o tempo passa, a importância de se desfrutar os pequenos momentos e de se estar com quem se ama. Falou que é importante amadurecer, sermos fortes e decididos. 

Naquele momento, enquanto a ouvia, pensei que aquele instante seria importante em minha trajetória. Um divisor de águas, um alerta do destino. Felizmente há sempre divisores para separar alegrias e tristezas, derrotas e conquistas, fracasso e sucesso. 

Divisor de águas também pode ser um limite geográfico. Mas não é esse o caso. Refiro-me exatamente àquele momento em que uma decisão ou um pensamento pode mudar sua vida, definindo o antes e o depois. Você simplesmente “fecha os olhos” e pula! 

É aquele momento em que você revê suas ações e não-ações, contabiliza acertos e erros, e segue em frente, deixando tudo para trás. É quando você finalmente para e pensa: eu posso mudar de vida e quem sabe até mesmo mudar o mundo, o “nosso mundo”. 

Talvez tudo isso seja pura reflexão. Nada a ver com destino. Talvez aquele casal não signifique nada, tampouco seus conselhos. Talvez eu deva perceber que, de lá pra cá, quase nada mudou, ou que, talvez, minha vida nem mesmo precise de mudanças… 

Mas acredito que de toda história devemos levar uma lição conosco. Temos que aprender ao ouvir os conselhos dos outros, mesmo de um desconhecido, tal como eu era para aquela iluminada senhora. Assim, é mais fácil ajeitar as coisas e ser, enfim, feliz.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.