Consciência Negra

“Eu não entendia que havia personagens que não eram oferecidos a atores negros”. A frase do ator e apresentador Lázaro Ramos, em entrevista à revista Trip, no já longínguo ano de 2014, é uma boa abordagem a ser feita nesta data, Dia da Consciência Negra. A visão de Lázaro é interessante. Não bastando as vivências que teve – sentiu o preconceito na pele quando jovem –, ele apresenta o programa Espelho, no Canal Brasil, abordando temáticas sociais, políticas e culturais, e traçando um registro do pensamento racial do país. Não à toa, foi no programa Espelho o último depoimento da psicanalista e escritora Neusa Santos Souza, que militou décadas contra o preconceito e pela igualdade racial no país. É dela o clássico da literatura militante negra “Tornar-se Negro”. Quem também passou por lá foi o rapper Criolo, autor da música “Diferenças” – “A gente vê, a gente ouve, a gente quer. Mas será que a gente sabe como é?”. Ele demonstrou perplexidade em relação à classificação de classes na sociedade, tipo A, B e C. A atriz Taís Araújo, outra entrevistada, exteriorizou seu posicionamento a respeito da questão racial e confessou que o assunto não foi discutido em sua casa. Por isso, ela não sabia articular sua autodefesa. “Quando tive que enfrentar o mundo, me senti completamente despreparada. Não sabia o que falar”. Essa afirmação faz pensar que tal temática precisa ser abordada cotidianamente nas salas de aula, de modo a preparar crianças com todas as cores de pele para lidar com o preconceito. Seja racial ou quaisquer outros que existirem – de gênero, religioso, regional... É essencial a discussão também nas faculdades e pontos culturais. Esse debate precisa ser amplo, já passou da hora. Lázaro, naquela entrevista, desabafou: “A gente tem que se indignar, não tem que achar natural a maioria nos presídios, nas favelas, nos manicômios ter a pele mais escura. Não é natural. Não tem que ser incômodo somente pra mim chegar num restaurante e o único negro ser eu”. E ainda contou sobre um diálogo com seu amigo-irmão, o ator Wagner Moura: “Um dia Waguinho me disse: ‘Pô, só me chamam pra fazer bandido e nordestino’. Eu disse: ‘Ô, meu filho, você pelo menos tem dois. E eu, que só faço preto?'”. Apesar do bom humor, como não se chocar com essa realidade?

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Da Redação
Direto da redação do Jornal O Regional.