Conectados, mas sozinhos: o impacto invisível da dependência digital

Estamos cada vez mais conectados, mas isso não significa que estamos mais próximos. Na rotina acelerada de hoje, muitos de nós nos tornamos reféns do celular, presos ao ciclo incessante de notificações e scroll. A dependência digital — caracterizada pela necessidade constante de estar online — já revela efeitos profundos na saúde mental: insônia, isolamento social, ansiedade e queda no desempenho em estudos e trabalho.

Adolescentes, em particular, sofrem com a pressão de se moldar a padrões estéticos irreais. Na era da “geração selfie”, filtros do Snapchat e Instagram substituem rostos reais por versões idealizadas — com pele impecável, olhos grandes e traços simétricos. Essa distorção digital da autoimagem fomenta a chamada “dismorfia do Snapchat”, promovendo baixa autoestima, perfeccionismo e insatisfação com o próprio corpo.

É um paradoxo doloroso: vivemos num mundo hiperconectado, mas, ao mesmo tempo, fragmentados. Somos bombardeados por informações — uma infodemia que causa fadiga de decisões, estresse e esgotamento mental. Em casa, muitos preferem a tela ao convívio real, reduzindo o contato humano, aquele calor essencial ao nosso bem-estar.

Do ponto de vista psicológico, esse cenário apresenta desafios urgentes. A prática do autodiagnóstico digital, influenciada por algoritmos que reforçam conteúdos negativos, pode aprofundar quadros de depressão, ansiedade e transtornos alimentares. O uso intenso antes de dormir compromete o sono, e a sensação de esgotamento pode se transformar em um desespero silencioso.

Essas feridas não se curam meramente silenciando alertas ou instalando filtros. É necessário ressignificar nosso relacionamento com o digital, incorporando hábitos que priorizem pausas, conexão afetiva e presença. A psicologia tem um papel importante: precisamos de uma abordagem mais crítica e embasada — que não naturalize a medicalização para ajustar indivíduos a padrões do mercado, mas que promova acolhimento, reflexão e saúde emocional.

Em Catanduva — onde a vida cotidiana ainda pulsa em praças, cafés, rodas de conversa e natureba — temos a oportunidade de retomar o contato genuíno. Que possamos olhar no olho, sem filtros, redescobrindo a beleza de ser imperfeito. Que nossas escolas, famílias e profissionais da saúde se unam para construir práticas de uso consciente da tecnologia e promover espaços de escuta — presenciais e digitais — com acolhida, empatia e reflexão.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp