.. A gente ama não é a pessoa que fala bonito, é

a pessoa que escuta bonito.

A fala só é bonita quando ela nasce de uma

longa e silenciosa escuta.

É na escuta que o amor começa.

Rubem Alves

A escuta é uma ferramenta importante na psicanálise e serve para adentrarmos aquilo que não conhecemos ainda. Sem ela nada é possível. Ao escutar podemos nos colocar perante o outro com disposição interna para adentrar um espaço desconhecido para ambos.

Escutar o paciente é imprescindível para o tratamento, e saber ouvir além do que o paciente está falando é uma verdadeira arte atrelada ao conceito do inconsciente na medida em que a associação livre é uma possibilidade para a investigação das próprias formações inconscientes.

O aparelho psíquico dentro deste modelo é composto de consciente, pré-consciente e inconsciente que se organizam em princípios reguladores e de funcionamento distintos do qual cabe ao psicanalista o trabalho de tornar consciente o inconsciente por meio principalmente da escuta, sendo aquele que é capaz de traduzir seus desejos, fornecendo-lhe sentido diante do desconhecido.

Escutar se refere também a capacidade adquirida pelo paciente de ao longo de sua análise aprender a se acessar, possibilidade esta que acontece após ele ter apreendido em sua experiência subjetiva do que este processo diz respeito.

Bion foi um psicanalista inglês que marcou a história da psicanálise. Suas contribuições introduziram vários conceitos que iluminaram a clínica e a experiência do pensamento onírico de modo particular. Para ele, um psicanalista deveria entrar na sessão sem desejo e sem memória, sendo capaz de estar com disposição interna para acolher a experiência subjetiva do paciente, sendo continente a fim de recolher suas angústias, traduzindo e deixando ao momento exato nascer a interpretação.

Talvez escutar bonito seja isto, estar no nada com o nada do paciente, na angústia, no tudo, sem desejo e memória.

Música “Convento Di Sant'Anna” St. Martin in the Fields, Gabriel Yared, do filme “O Paciente Inglês”.