Comida é pasto

Aconteceu numa famosa pizzaria. Não sou de me intrometer na vida dos outros. Mas não pude deixar de perceber o ocorrido. Após o garçom ter servido a pizza de mussarela, pediram catchup e mostarda. O garçom, primeiro inconformado e depois resignado, trouxe os ditos cujos. Pelo jeito, outros fregueses já tinham feito este pedido anteriormente. Uma outra adaptação famosa é a pizza com borda ou incrementada com gergelim. Dificilmente você encontra isso na Itália. Fiquei pensando em combinações inusuais de alimentos. Lembrei-me de muita coisa que já vi e ouvi falar a respeito.

Vinagre na pipoca. Vale também para outros temperos que colocam na pipoca que não sejam sal ou manteiga. Com bebidas alcoólicas acontece de tudo. Até pinga no café. O uísque é outro campeão. Ao que eu saiba é puro ou com gelo. Tem quem misture com guaraná (é a famosa combinação da década de 1960: “whisky ago go”), água de coco, soda, água com gás e até limão. Aliás, eu que adoro limão, já o coloquei no macarrão e no arroz.

O que dizer do alimento universal, o pão. Pão com ovo, pão com macarrão ou sanduíche sem pão, o tal do lanche no prato, para se comer com garfo e faca. Isso é igual cortar macarrão com faca. No Japão, sushi é salgado, feito de legumes, peixes e frutos do mar. Os Hot Rolls também é coisa ocidental, já que no Japão os sushis não passam nem perto de uma fritadeira. Não se usa o cream cheese como ingrediente no país de origem do sushi.

Misturar molhos branco e bolonhesa no macarrão é outro hábito insólito. Confesso que já fiz isso. Quem não fez? E misturar macarrão com arroz e feijão? Os nutricionistas devem rolar no chão quando veem isso. O que falar então do cachorro quente que vem com tudo a que tem direito? É tanta coisa que nem cabe no pão. Comida mexicana e baiana sem pimenta? Que graça tem? Coxinha que é coxinha é de frango. Qualquer coisa diferente não é coxinha.

Mas eu começo a implicar quando mexem com a minha culinária predileta: a árabe. Vejam só as esfihas. Originais do Líbano e da Síria, vieram para o Brasil com os primeiros imigrantes árabes. Incorporaram-se fácil na culinária brasileira. Não há um boteco que você não as encontre. Eram tradicionalmente recheadas com carne bovina, carne de carneiro, zaatar, coalhada ou verduras temperadas. Agora, elas ganharam diversas variações, com recheios de ricota, cheddar, atum, carne seca e até mesmo recheios doces. Mas o pior destino está reservado para o meu predileto: o kibe. Já o fizeram verde, de peixe, com queijo, com creme e até frango. Outro dia, vi numa vitrine de bar a maior heresia: o kibovo, algo mais ou menos como um ovo cozido envolto por uma capa de kibe ou um kibe cujo recheio é um ovo cozido inteiro. Uma verdadeira bomba atômica.

Não é só o avestruz que come de tudo!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura