Os novos 'Malvados Favoritos' estão à solta

Meu Malvado Favorito, que gerou continuações e até um derivado, os populares Minions, foi uma animação que mostrou o quanto é importante - e pode ser popular - o papel do vilão. Sem nem mesmo deixar de citar o adulto filme do Coringa, que rendeu mais de um bilhão de dólares, e toda filmografia mafiosa, em outro caso, vemos que Hollywood sempre esteve atenta a isto, e resolveu investir novamente no filão da vilanice em desenho animado. É o caso de Os Caras Malvados (The Bad Guys), em exibição esta semana no CineX de Catanduva, no Garden Shopping.

Dessa vez, temos o protagonista, Sr Lobo, quem bola os complexos planos de assaltos e é um habilidoso batedor de carteiras; seu melhor amigo, o Sr. Cobra, expert em arrombar cofres, mesmo não tendo mãos; o sensível Sr. Tubarão, é um mestre em disfarces, por incrível que isso possa parecer; já o latino Sr. Piranha é pequeno, mas forte e feroz; e a única representante feminina da quadrilha é a Srta. Tarântula, uma hacker capaz de invadir qualquer sistema de computadores ou da internet, que não por acaso é chamada Teia (Web). São animais tipicamente peçonhentos ou vilanescos, que tocam o terror numa cidade de humanos e animais humanizados com sua simples presença.   

Dirigida por Pierre Perifel, Os Caras Malvados não escondem ser uma espécie de Doze Homens e Um Segredo para o público infantil – apesar de que apenas o adulto seria capaz de entender as referências aos filmes, inclusive as piadas com o ator George Clooney. Adaptado de uma série de HQs homônimas do australiano Aaron Blabey, publicadas desde 2015, Os Caras Malvados começa com muita ação logo de cara, com a primeira cena vindo direta de Pulp Fiction. Como no filme de Tarantino, o Sr. Lobo e o Sr. Cobra discutem numa lanchonete, para depois roubar um banco, de forma ágil e veloz, mas sem a violência daquele, claro, enquanto os demais personagens e suas funções no assalto são apresentados.

Mais uma vez, os Caras Malvados completam outro assalto perfeito e fogem de forma divertida, na cara das autoridades, que não conseguem detê-los. Isso, enquanto a cidade relembra do grande desastre que a abateu, quando um meteorito a atingiu e quase a destruiu, mas um notável filantropo, o milionário Professor Marmelada, um simpático e fofo porquinho da Índia, considerado tão bom quanto a Madre Teresa de Calcutá, conseguiu mudar o destino dela. Mas a cidade tem uma Chefe de Polícia durona e seu maior sonho é prender os Caras Malvados, que sempre escapam dela. Além de uma governadora, a Srta. Raposa, tão experta nos pensamentos quanto rápida nos diálogos.

Os Caras Malvados, ciosos de seu nome, resolvem realizar o maior roubo de todos: o da estátua do Golfinho Dourado, que será apresentado numa festa beneficente promovida pelo professor Marmelada. O roubo, nessa noite, é quase perfeito, mas algo dá errado e a quadrilha termina presa. O Professor Marmelada, no entanto, acredita que eles podem mudar e afirma ter desenvolvido um método para transformar vilões em boas pessoas. Os Caras Malvados ficam então sob sua responsabilidade, até que se transformem em “caras legais”. O que não será nada fácil.

Com um roteiro cheio de reviravoltas e estripulias, a ação e as surpresas da animação são constantes, do começo ao fim, e mesmo os protagonistas sendo vilões, tentando a todo instante escapar de se tornarem “caras legais”, é impossível não gostar deles. Essa é, aliás, a mensagem do filme, a de que toda criatura tem um lado bom. Ou os bons também tem seu lado mau, como vemos, de maneira surpreendente, ao longo da animação, que termina com cenas pós-créditos e um gancho para uma continuação, se esta tiver sucesso. É bastante curioso como diversas animações, já há algum tempo, tem roteiros mais inteligentes e bem escritos que a média dos filmes com atores.   

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.