Coleção

Dizem os psiquiatras que o ato de colecionar pode ser uma compulsão por acúmulo de coisas ou de algum artigo em específico. Não sei se Freud, o pai de todos, podia meter o bedelho neste assunto. Ele mesmo colecionava gravatas. Sei lá se isso tem explicação. Deixo para os interessados pelo assunto.

A minha primeira foi de tampinhas. Acho que por causa da minha altura eu era chamado de “tampinha” na escola. Tinha uma, de um refrigerante intragável, o Ginger Ale. Mas a tampinha era bonita. Gostava também de 2 outras. A de Crush e a da tubaína. Não lembro que fim levou.

Tinha também o dos carrinhos Matchbox. Por serem um pouco caros eram mais difíceis de adquirir. Era uma glória a cada um que ganhava.

A de calendários de bolso era bonita. Eu morava bem no meio do comércio. Então era só sair pedindo de loja em loja.

Virei filatelista. Colecionava selos. Fiz muitos amigos. Aprendi bastante com eles. Foi um pulo para a numismática. Coleção de moedas e cédulas de dinheiro. Não gostava muito mas ajudava na troca de selos.

Depois vieram os gibis. Heróis eram os preferidos mas gostava também da Disney e outras revistas como o Asterix, Mad, Mortadelo e Salaminho, Groo, etc. Larguei mão por conta de uma desilusão. Minha mãe, quando eu estava na faculdade, num dia de faxina pagou para um vizinho levar embora toda a minha coleção completa do Tex (gibi de faroeste). Do 1 ao 180 e pouco. Peguei trauma. Fiquei só com a do Batman.

Já na faculdade veio a coleção de discos de vinil. Tenho ela até hoje. Mesmo depois dos CDs e DVDs, ainda tem lugar no meu coração. O duro é que apesar de termos uma boa vitrola em casa é mais fácil tocar direto da internet.

O engraçado é que se você fuçar na vida das pessoas, descobre um monte de colecionador escondido. As meninas com as bonecas e os papeis de carta perfumados. Os meninos colecionavam chaveiros, maços de cigarros, autógrafos, camisas de futebol. Na idade adulta, canetas, relógios, fuscas, carros antigos e até lembrancinhas dos lugares por onde viajou.

Quando a coleção fica muito grande, você abre um museu. Não é esta a história da maioria deles? Está certo que que alguns museus preservam a memória de alguma personalidade ou de um fato histórico. Mas a coisa fica séria quando você vê itens alcançarem preços estratosféricos em casas de leilões europeias. Experimente colocar à venda uma jaqueta do Elvis ou um violão dos Beatles para ver onde vai parar.

Quem é de “fora” nunca vai entender. Vai achar que é um monte de tranqueiras e pronto. Não enxerga o valor sentimental por trás de cada item. Já disse lá em cima que a discussão não é comigo. A Copa do Mundo. Pela primeira vez, desde que me conheço como gente, não colecionei o álbum de figurinhas. Desde a de 1974 colecionei todos. Agora, dificultaram muito. Já disse que parei com os gibis por causa de uma desilusão. Sei não. Acho que está na hora de parar com tudo!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.