Coisas novas
“Mas o que eu procuro mesmo são mais vidas.”**
TAIGUARA
Cantor, músico, compositor, letrista, arranjador brasileiro (1945-1996)
No próximo dia 10 de janeiro, semana que vem, a Cia da Casa Amarela completará 29 anos de história, criando sonhos e emoções, sensibilizando e provocando reflexões, desenvolvendo o senso-crítico e ampliando a visão do público sobre a arte e a vida.
Não há em nossa cidade (e nunca houve!) e região, um currículo como o da Cia da Casa Amarela, não só pelas conquistas (prêmios, homenagens etc.), como também pela representatividade, pelo respeito alcançado, temática de sua produção, de espetáculos elogiados, pela diversidade dos assuntos e pela estética única. Porém, acima de tudo, está a procura pela vida!!! O que levamos ao nosso público é busca, sentimentos, nada pela metade, tudo intenso, porque a existência humana vibra.
No entanto, o que vemos hoje é uma sociedade vivendo a superficialidade e isso faz diferença para os artistas engajados na transformação humana. Não é fácil esbarrar na falta de imaginação, na limitada interpretação de texto e capenga sensibilidade que uma boa parte das pessoas hoje sustentam. Não buscam, não semeiam... não colhem.
A Arte transforma e é isso que nos move.
Lembramos o grande, único e eloquente Taiguara – um cantor, músico e compositor brasileiro – um sucesso absurdo dos anos 60 e 70 e que, infelizmente, caiu no limbo*** graças a uma sociedade que na época privilegiou o conservadorismo e os bons costumes, precipitando o artista num processo de morte lenta, espiritual e física. Depois de exilado, Taiguara nunca mais foi o mesmo, embora continuasse um artista ímpar, com belas composições, contudo estava claro que era necessário deixá-lo de lado, para que ele não incomodasse.
Mas o discurso é o das coisas novas, num paradoxo absurdo, pois quem reclama pela modernidade são os mesmos que pregam o conservadorismo. Como assim? É porque as coisas novas que pregam são frias, superficiais, materialistas, porém nunca de transformação, renovação, superação... É o velho discurso que no fundo quer dizer sempre a mesma coisa. Não mexa, não estimule, não incomode.
Ao completarmos 29 anos de Cia da Casa Amarela, continuamos como Taiguara e tantos outros artistas e seres humanos que promoveram vida intensa, arte, superação, buscas e mais buscas. Parafraseando o compositor imortal, queremos coisas novas, sim, mas o que procuramos mesmo são mais vidas!
Que em 2024 encontremos mais vidas... vivas... e que você, leitor, encontre as também, porque – no final das contas – o que restará é o que vivemos, compartilhamos com outras vidas, e não o que idealizamos apenas.
Feliz Ano Novo, com coisas novas e com mais vida!
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