Clima olímpico

Os Jogos Olímpicos foram criados há mais de 2700 anos. Eram importantes na Grécia. Até as cidades-estados em guerra faziam trégua. Na era moderna, foi o Barão de Coubertin quem resgatou o evento. De início discreto, com poucos países e algumas centenas de atletas, tornou-se um evento global, com praticamente todos os países do mundo. O que não se imaginava era a transformação do evento em manifestação cultural, perceptível no desfile das delegações e no show de abertura. Um evento global assistido por bilhões de pessoas, transformou-se num grande negócio.

Aproveitando a vitrine dos Jogos, a política não demorou a contaminar o espírito olímpico. Nos Jogos de Berlim (1936), Adolf Hitler tentou usar os jogos como demonstração de força e superioridade da “raça ariana”. Seus planos frustraram-se pela vitória de atletas negros, destaque para Jesse Owens. Hitler recusou-se a cumprimenta-lo. Outro evento triste, deste eu me lembro, foi o atentado terrorista em Munique (1972) onde 11 atletas morreram. Nos jogos de Moscou, os Estados Unidos e aliados recusaram-se a participarem e pregaram o boicote. A União Soviética (URSS) deu o troco em 1984, nos Jogos de Los Angeles, que será a sede dos próximos jogos, em 2028.

Tem algo que me incomoda profundamente em eventos globais desta proporção. É o chamado “legado dos jogos”. Vários estudos apontam que é mais provável o prejuízo para a cidade-sede e para o país que abriga o evento do que o lucro. O único lugar que deu certo de verdade foi Barcelona, a mesma cidade que agora vive espantando turistas com pistolas d´água. O Brasil é a prova de que pode dar muito errado. O que foi construído para os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro (2007), foi demolido e reconstruído para as Olimpíadas do Rio (2016). Depois, já teve demolição e interdição, como no trágico acidente envolvendo a passarela Tim Maia. Nem vou falar dos estádios para a Copa do Mundo de 2014. O pior de tudo, a icônica Baia da Guanabara, um dos lugares mais lindos do mundo, nunca foi despoluída, embora estivesse presente nos compromissos de 2007, 2014 e 2016. Nunca houve a melhoria das redes de transporte coletivo. Duvido que algum dia aconteça.

De qualquer forma, eu gosto bastante de assistir e torcer. Minhas provas favoritas são os esportes de combate (boxe, judô, luta livre). Costumo assistir os boletins diários com os resultados e imagens do dia. Afinal, pode parecer ultrapassado, mas ainda acredito na frase que se tornou lema dos Jogos: "O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”. Atribuída erroneamente ao educador francês Pierre de Frédy (Barão de Coubertin), a frase, entretanto, não é de sua autoria: teria sido pronunciada pelo bispo de Londres em um ato religioso antes dos Jogos de 1908. É isso aí. Que comecem os Jogos! 

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.