Ciúmes entre irmãos
Se você tem mais de um filho com menos de cinco anos conhece bem o ciúme entre irmãos.
Casais que passaram por um ajuste de rotina no seu primeiro filho ficam completamente exauridos com a experiência do segundo, e independente quais sejam os arranjos e exigência física, a turbulência emocional causada pela chegada de um novo membro e a dificuldade que o filho mais velho vai sentir para internalizar a presença do mais novo necessita de pais que saibam lidar com este sentimento encarando a situação como oportunidade de crescimento e autoconhecimento para todos.
Tarefas complexas com exigências para administrar as necessidades físicas e emocionais entram em conflito exigindo dos pais compreensão, gerenciamento e negociação.
Ao mesmo tempo, sentimentos de raiva e de se sentir menos, e o medo de perder o lugar já conquistado prevalecem necessitando de tempo para que o amor possa se fazer presente pelo entendimento de que a relação e afetividade com os pais não está ameaçada.
A chegada do novo membro não aguça apenas a rivalidade infantil mas também a ambivalência entre o amor e o ódio aumentando o sofrimento diante da ameaça, e o conflito entre o amor e os impulsos agressivos que levam ao sentimento de culpa e desejo de oferecer alguma compensação por um dano real ou imaginário, sendo natural que o filho mais velho demonstre ciúmes, ressentimento, raiva, tristeza e insegurança como resposta ao nascido, e a maneira pela qual estes sentimentos se expressam, se não concluídos com êxito, o ciúmes latente se estenderá por toda a vida dando margem a conflitos que são decorrentes da dificuldade em administrar a presença do irmão, gerando insegurança, ciúmes, rivalidade, agressividade ao mesmo tempo que um forte sentimento de competição que são frequentemente trazidos à tona, sendo a presença do filho mais novo sentida como uma ameaça.
É comum pais com muitos filhos relatarem o exagerado ciúmes dos irmãos mais velhos com relação aos menores, encontrando uma mistura de sentimentos não apenas em relação a eles mas nas relações sociais, desejando compensar comportamentos nos padrões infantis nascidos de conflitos quando os sentimentos ainda eram vividos de forma absoluta, sem disfarce e nomeação.
O ciúmes é antes de tudo constitutivo, e se alguém pensa não o possuir, justifica-se a interferência de quem experimentou severa repressão que desempenha um papel ainda maior em sua vida mental ainda inconsciente que se não tratados estarão presentes em outros comportamentos disfarçados e sem representação do próprio sujeito, tornando um problema quando o ciumento assume uma posição de certeza absoluta em relação ao que está acontecendo sem acessar o seu próprio ciúme.
Ciúme demonstra muita coisa menos amor, e de forma permissiva destrói relações se não tratados na infância por pais atentos e pacientes com seus filhos, e na vida adulta, este sentimento estará presente ainda que com outros nomes e disfarçados de afeto.
É como se o enciumado pudesse dizer: ...eu não aguento o que sinto quando você está presente por isto destruo... e quando você está ausente, eu falo mal de você...
Nem sempre o ciúmes entre irmãos fica na infância, e quando alimentados direta ou indiretamente ao longo dos anos, os confrontos tornam-se pesados acabando por provocar afastamento de quem não aguenta conviver com quem não tem em mente que a fonte de sua agressividade pode estar neste sentimento que não foi bem digerido na infância.
O vínculo é uma relação estabelecida na continuidade do tempo com lembranças partilhadas que no decorrer da infância as memórias e vivências familiares irão auxiliar na manutenção ou não, quando puderem se respeitar, sobretudo tendo presente que agrupamentos e conluios não são a solução, mas um novo problema.
Música “Ciúme de Você” com Raça Negra.
Foto do acervo, @auguri_humanamente ©
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