CINEMA EM FOCO - 14.11.23

Um romance muito perigoso

Ao descobrir a traição da mulher, o engenheiro Ed (Jeff Goldblum), que sofre de crises de insônia dá carona a uma modelo, Diana (Michelle Pfeiffer), que está em fuga. Ela é perseguida por criminosos que mataram seu marido. Juntos, Ed e Diana seguem uma longa jornada noite adentro para escapar dos bandidos.

Clássica aventura oitentista descompromissada, engraçada e com ótimas cenas policiais, com Jeff Goldblum um ano antes de ficar famoso em ‘A mosca’, e Michelle Pfeiffer recém-lançada no cinema. É uma aventura tresloucada e infernal que cruza uma noite inteira, de um engenheiro traído e insone e uma desconhecida perseguida por perigosos bandidos. A dupla tem de escapar de balas, facas, explosões.

Aos poucos a história dos dois é revelada – ele, traído pela esposa, que vive cansado, e ela, uma ex-atriz, casada com um mafioso ligado a roubo de joias, que acaba assassinado e, por consequência, vira alvo da vez. Cruzam com pessoas estranhas, como se fosse um sonho interminável, sem ajuda de ninguém.

O diretor John Landis, de ‘Um lobisomem americano em Londres’, recrutava, em seus filmes, nomes de destaque, em participações pequenas, e costumava pintar como ponta – aqui ele é um dos quatro bandidos que perseguem a protagonista. Contei mais de 20 participações rápidas, como os diretores fazendo pontas Paul Mazursky, Colin Higgins, Jim Henson, Roger Vadim, Amy Heckerling, Don Siegel e David Cronenberg, além de coadjuvantes como David Bowie, Irene Papas e Dan Aykroyd. Espere tudo desse roteiro frenético de Ron Koslow, que escreveu pouco, e antes havia roteirizado o drama ‘Verão de ilusões’.

No mesmo ano, Martin Scorsese lançou uma fita de aventura e humor muito parecida, ‘Depois de horas’, sobre uma noite infernal em Manhattan, de um rapaz atrás de uma jovem esbelta que conheceu num café.

Lançado em DVD pela Obras-primas do Cinema.

Um romance muito perigoso (Into the night). EUA, 1985, 115 minutos. Comédia/Aventura. Colorido. Dirigido por John Landis. Distribuição: Obras-primas do Cinema

 

Vivendo no abandono

O diretor de cinema independente Nick Reve (Steve Buscemi) tenta, de todas as formas, terminar um filme de baixo orçamento, em meio a um set de filmagens maluco, com atores neuróticos e diversos problemas técnicos.

Premiado no Festival de Sundance e indicado ao Film Independent Spirit Awards, o segundo longa-metragem de Tom DiCillo – que antes havia dirigido Brad Pitt em ‘Johnny Suede’ (1991), é uma pérola do cinema alternativo/independente, que custou parcos U$ 500 mil e rapidamente se tornaria cult nos EUA. É metalinguístico por natureza, mostra os bastidores de uma fita pequena e de baixo orçamento. Quem assiste a making of de filmes, vai entender o jogo aqui criado e rir das piadas internas. Produzir um filme é difícil, e sem recursos financeiros, com atores complicados, piora. As situações envolvem erros de marcação do elenco, atores que esquecem das falas, brigas entre eles, gente que se apaixona no set, irritação do diretor e equipamentos, como câmera, que pifam.

DiCillo, que realmente vinha do cinema independente, trouxe uma linguagem acessível e com humor para contar um dia numa gravação. Trouxe nomes em início de carreira que depois despontariam, como Steve Buscemi, no papel do diretor, Dermot Mulroney, como o diretor de fotografia com um tapa-olho, Catherine Keener, a atriz principal da produção, e Peter Dinklage, como um mágico. Depois desse trabalho, DiCillo

Depois viria ‘A chave da liberdade’ (1996), ‘Uma loira de verdade’ (1997) e ‘Delírios’ (2006). Em DVD pela Obras-primas do Cinema, numa boa edição, com extras.

Vivendo no Abandono (Living in oblivion). EUA, 1995, 89 minutos. Comédia/Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Tom DiCillo. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva