Cinema de preguiçoso

Neste ano, por conta de três indicações do filme “Ainda estou aqui”, o Oscar chamou muito mais a atenção das pessoas do que de costume. Poucos sabem como funciona a complexa engrenagem da premiação. O responsável por todo o negócio é a AMPAS (Academia de Artes e Ciências Cinematográficas) ou simplesmente, “A academia”. Ela é uma organização profissional dedicada ao desenvolvimento da arte e da ciência do cinema. Possui aproximadamente 10500 membros dos quais 9500 são votantes. A maioria (52%) não é norte-americano. São mais de 50 votantes brasileiros.

Para começar, o filme tem que ser lançado no seu país de origem entre primeiro de novembro de um ano a 30 de setembro do ano seguinte. Se perder o prazo, concorre dali a dois anos. O filme não precisa ter sido lançado nos Estados Unidos. Caso o filme não seja falado em inglês, deve ter obrigatoriamente legendas neste idioma. Na categoria internacional, cada país tem um comitê que inscreve apenas um filme por ano.

Se for aceito para concorrer, passa por uma série de votações. Todos os membros da academia são convidados a assistir aos filmes. Tem um número mínimo de filmes assistidos para o voto ser válido na primeira fase. Votam de modo secreto, indicando sua ordem de preferência, a no máximo em quinze filmes. Nesta fase, os eleitores só votam nos filmes para a sua própria categoria. Exemplo: para o Oscar de melhor diretor, só votam os diretores. E assim por diante. Apenas uma categoria é votada por todos desde o começo: a de melhor filme. Os quinze filmes mais votados em cada uma das 17 categorias passam à rodada seguinte. Nesta fase, para o voto ser válido, os votantes tem que assistir a todos os quinze filmes e também indicar sua ordem de preferência. Os cinco mais votados são indicados para a votação final do Oscar. Aí, todo mundo vota em todo mundo.

Na última fase, tem uma espécie de campanha eleitoral. São organizadas sessões privadas de exibição, jantares, entrevistas, participação em festivais menores para alavancar o nome e divulgação digital maciça. Não adianta ser bom. Tem que ter muita verba para esta fase. O maior vencedor é Walt Disney. 59 indicações e 22 estatuetas. Filme recordista foi o Titanic (1998) com 14 indicações e 11 prêmios. Atriz foi Katharine Hepburn com quatro estatuetas. Mas Meryl Streep teve 21 indicações e “só” ganhou três.

O filme brasileiro ganhou a primeira estatueta para o cinema nacional. Tomara que incentive as pessoas a irem ao cinema. Adoro a sétima arte. Mas, por conta da correria, ao longo dos anos diminuí bastante minhas idas ao cinema. O bom catálogo das plataformas de filmes, a geladeira e o sofá de casa me deixaram mais acomodado. Nunca dormi durante um filme no cinema. Já em casa, não posso dizer o mesmo. Preguiça maior, impossível!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura