Cine Theatro São Domingos

Iniciada sua construção em 1925, o Cine Theatro São Domingos foi inaugurado no dia 15 de novembro de 1927, com a exibição do filme “A Ilustre Desconhecida”.
Era de propriedade do Sr. Mário Degani Filho, grande investidor na área cinematográfica, que naquele momento vinha ganhando grande espaço no país.
Degani, logo após a inauguração, sofreu uma grande tragédia emocional, pois sua filha havia se suicidado, lançando-se nas águas do rio São Domingos, morrendo afogada. Desiludido e desgostoso de morar em Catanduva, já que a cidade lhe trazia muitas lembranças que o faziam sofrer, resolveu colocar o cinema à venda, por uma quantia de 200 contos de réis.
José Ângelo Pellegrino, que já tinha inicialmente adquirido em sociedade o Central Cinema, com Ângelo Coltro e agora era seu único proprietário, e por isso concorrente de Degani, se interessou em comprar o referido prédio, com ideia de expandir cada vez mais os seus negócios.
Mesmo com o interesse, José Ângelo Pellegrino não tinha os 200 contos de réis para comprar o cinema, por isso entrou em sociedade com seu amigo conhecido como Costa, proprietário do Chalé Vale Quem Tem, que entrou com o restante do dinheiro.
Surge, porém, um problema em meio a essa negociação: Mário Degani Filho se recusava a vender o cinema à José Ângelo Pellegrino, porque sempre foi seu concorrente.
Com o objetivo de adquirir o prédio, Costa, então sócio de Pellegrino, se apresentou como comprador majoritário à Degani, dizendo que Pellegrino seria sócio com uma quantia muito irrisória, o que não era verdade. Degani, acreditando nessa versão, vendeu então para seu principal concorrente o Cine Theatro São Domingos.
Efetuada a compra, por volta de 1929 o nome do cinema modificou-se para Cine República, por estar localizado na praça que leva essa nomenclatura, e passou a responder juridicamente com a firma Empresa Pellegrino e Filhos (José Ângelo Pellegrino; Mário e Januário Pellegrino), mais tarde Empresa Paulista de Cinemas.
Poucas são as memórias deixadas a respeito desse cinema. Relembra, porém, Diomar Ziviani (in memorian), em textos antigos que, como os filmes ainda eram mudos, “Anísio Borges tocava pistão, seu cunhado Fausto ao piano acrescido de mais dois músicos executavam a trilha sonora dos filmes. Conforme a cena, era um tipo de música. Quando o filme era interessante, os músicos, ao prestarem atenção no enredo, relaxavam, por assim dizer, no seu trabalho e eram advertidos por Mário Pellegrino com uma espécie de senha: ‘Joaquina’, pronunciada em ênfase e voltavam a se empenhar.”
Funcionamento
O Cine República, além da exibição de filmes, foi palco de vários eventos em nossa cidade. Muitos políticos utilizaram seu espaço para a realização de palestras, como a fala de Plínio Salgado, grande líder integralista nacional, por exemplo.
O lugar também era utilizado para formaturas, apresentação de shows, como Roberto Carlos, Os Incríveis e Moacir Franco, eventos beneficentes e uma série de eventos que faziam a diversão e proporcionavam lazer para a população de Catanduva em épocas passadas.
Fato Interessante
A história do Cine República tem alguns momentos interessantes de se destacar.
Certa vez, apareceu um japonês na cidade se propondo a exibir em suas dependências um filme intitulado “O Melhor da Minha Vida”. Saiu pela cidade vendendo ele próprio os ingressos com antecedência, porém, no dia e hora marcados ele não apareceu, o que enfureceu o povo contra o cinema.
Algum tempo depois, em 17 de dezembro de 1947, um indivíduo foi contratado por Januário Pellegrino para apresentar um espetáculo no referido cinema, mas no último momento ele se arrependeu e cancelou o evento, pois ficou com receio de que fosse um tanto medíocre. O rapaz, que dizia ser mágico e fazer proezas, foi para a frente do cinema e incitou a revolta do público. As pessoas presentes ficaram todas irritadas e apedrejaram o prédio, depredando o cinema que ficou impossibilitado de funcionar por algum tempo, até que passasse por uma grande reforma.
Fim do cinema
Em 31 de março de 1984 o prédio foi demolido para dar lugar ao atual prédio do Bradesco. Após o fechamento dos demais cinemas do grupo, restou apenas o Cine Bandeirantes, que funcionava na rua Alagoas, entre as ruas Maranhão e Treze de Maio, que passou por uma grande reforma. Sua parte superior, onde era antigamente o balcão, passou a ser o Cine República e na sua parte inferior, modernizado, funcionou o Cine Bandeirantes, cinemas que existiram até 23 de setembro de 2012, no qual tiveram suas portas fechadas.
O professor Luiz Roberto Benattii, em um artigo de 2007, ilustrou: “O República foi posto abaixo e dele não se conservou nenhum tijolo. (...) O República tinha frisa, palco italiano, orquestra, salão de barbeiro e mercearia. Ele tinha a cara de Catanduva na época. Nele você reeducava os sentidos e meditava acerca das estruturas sociais. Em seu lugar foi erguido o Banco Bradesco. Completo mesmo era o cinema. O banco é apenas o lugar do capital volátil e da mais-valia sem peias. Sinal dos tempos”.
Fonte de pesquisa:
- Acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.
Foto: Em 15 de novembro de 1927, inauguração do Theatro São Domingos, que se localizava na Praça da República, local atual do Bradesco, passando o filme “Ilustre Desconhecida”
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