Chegou a vez lá de cima

Desde os primórdios da humanidade, o Céu e as estrelas fascinam o homem. E sempre foram objetos de sua veneração. Se observarmos as maiores religiões, no cristianismo, Deus e os anjos moram no Céu que também é a morada dos justos depois de sua morte. O Sol, a Lua e as Estrelas aparecem junto com o Céu em dezenas de passagens. O mesmo se repete no judaísmo, no hinduísmo, no budismo, no taoísmo, no confucionismo, no islamismo, nas religiões de matriz africana, nas religiões antigas e nas religiões xamânicas.

Mais da metade dos 200 países existentes no mundo tem um astro em sua bandeira. Exibem na sua bandeira estrelas (55 países), o Sol (23), seja desenhado (Argentina) ou figurado (Japão, o país do “Sol Nascente”), a Lua e o Sol (três), só com a Lua (um) e com a Lua e estrela (onze). No cinema e na música os exemplos são incontáveis.

Tudo isso me veio à mente porque neste ano, comemoram-se 50 anos da chegada do primeiro homem à Lua. Foi o momento culminante da corrida espacial. O mundo vivia em plena Guerra Fria. Os soviéticos estavam mais adiantados. Foram os primeiros a colocarem um ser vivo no espaço, a cachorra Laika, em 1957. Tinham instalado um satélite na Lua, a sonda Luna 3, em 1959. Foram os primeiros a enviar um homem ao espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin em 1961 e também a primeira mulher no espaço, Valentina Tereshkova, em 1963. Mas, em 1969, os americanos enviaram Neil Armstrong que deu os primeiros passos na Lua, seguido por Edwin Aldrin, enquanto Michael Collins orbitava na nave. Custou 263 bilhões de dólares para a NASA. As viagens à Lua tomaram novo impulso quando outros países também participaram da corrida espacial: Japão (1990), China (2007) e Índia (2008). Existe um acordo curioso entre os cinco países. Ninguém mexe em nada do que o outro fizer ou colocar na Lua. Principalmente objetos.

E por que tanta celeuma em torno da Lua? A Lua será o grande laboratório para que cheguemos a Marte possivelmente em 2030. Precisamos de alternativas para colonizar e perpetuar a raça humana. A Lua é a opção mais próxima. Tem até água lá (gelo). A China está desenvolvendo o cultivo de plantas na Lua. Precisa mesmo. Tenho amigos que torcem o nariz quando falo sobre isso mas estima-se que na Terra caibam dez bilhões de habitantes. Logo atingiremos esta marca. O planeta já dá sinais de cansaço. Acredita-se que a Terra dure mais uns 70 anos no máximo. Faltarão água, comida e energia. Não vai ter escapatória. Teremos que povoar a Lua no curto prazo e talvez Marte depois. Sabem o tal acordo entre as potências que citei no parágrafo anterior? Inclui não mexer nem nos saquinhos plásticos deixados lá contendo excrementos dos astronautas. Daremos conta de poluir a Terra até acabar com o planeta. Chegou a vez da Lua!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.