Catanduva de feitiços e talentos

A arte está em todos os lugares. Nos espaços mais visíveis e porões mais escondidos. Em pessoas tímidas e nas exibicionistas. No movimento mais singelo e naquele extravagante. A Catanduva que nem todo mundo vê é assim: inúmeros talentos espalhados pelos quatro cantos da cidade – e muitos ainda não descobertos. 

Sobre o palco do Teatro Municipal, com traços de Luis de França Roland, vários artistas se revezam sob a luz dos refletores e aplausos do público. Não dá para listá-los. Mas é possível lembrar que, entre eles, Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues usaram as artes cênicas para falar de arte e retratar a vida de grandes pintores. 

Na Estação Cultura, os alunos das oficinas esbanjam talento a cada movimento do corpo, do pincel ou da agulha. De lá poderão surgir obras-primas e novos nomes das artes plásticas, na trilha dos expoentes Morgilli, Jesser Valzacchi, Dominique Lecomte, Bayo, Jeron, Zaniboni, Cassiano Pereira, Mazinini, Perez e tantos outros. 

Na dança, em minha mente ecoam os nomes de Alexandre Mendes e Delei Gomes, com suas escolas tradicionais, e de grupos competitivos e premiados como o Primeira Impressão. 

Já na música, embalada pelas suntuosas bandas dos bailes feiticeiros, revelam-se acordes do instrumentista Amador Longhini Jr. – fazendo inveja país afora. No piano, também há Patrícia Suppi em mais de 70 anos no ensino de música, transformando o Festival de Corais de Catanduva em referência nacional. No violão, Maguetas dedilha intocável, Breguedo lidera fanfarras e o clássico ressurge sob a regência de Misael Salustiano e Martha Ocon. 

Em Catanduva, a arte também ganha tons fantásticos sob a batuta da família Aires, que percorre o país, há mais de 100 anos, para perpetuar a alegria circense. Com o ilusionista Vitor Hugo, amplia-se a magia e os mistérios de quem já leva a Bruxinha como símbolo. 

Na literatura, alguns nomes serão eternizados. Uns num único livro. Mas outros se aventuram por romances, histórias e canções sem parar de escrever. Wagner Homem é um destaque. Mas Marcílio Dias, José Carlos Buch e Vicente Celso Quaglia, que nos desenhou de A a Z, também deixaram suas marcas. 

Na grande mídia, alguns catanduvenses mantêm-se impávidos com talento, garra e beleza – ou tudo isso junto, como o saudoso João Ellyas, Rita Guedes e Bruno Ferrari. 

À margem desse circuito, outros nomes pipocam, muitas vezes de forma independente. São escritores, autores, atores, produtores, músicos, bailarinos, pintores, artistas de diversos gêneros e estilos, conscientes ou não de seus papeis e importância.  

Com tantas culturas, contraculturas, artes de rua e manifestações, ainda fixo o nome da Associação Dell’arte, espaço de origem e destino cultural, e caráter social, cuja ação sinestésica espalha tentáculos em vários campos e envolve artistas multifacetados – que se integram à sociedade e a provocam. 

Ao longo dessa trajetória centenária de Catanduva, contada em prosa e nos versos do Grupo de Poesia Guilherme de Almeida, muitos lugares e pessoas se destacaram. Mas isso é papo para longa conversa com Darcy Meinlschmiedt e os colegas pesquisadores de uma mesma inicial Bassanetti, Benatti e Bolinelli, tal como fez o saudoso Brasil e o faz Baccanelli.  

A verdade é que, em Catanduva, como um feitiço que se espalha no ar, a arte se dissipa por todos os meios e mãos, seja no talento do olhar fotográfico, como tão bem faz Anísio Magalhães, seja em esculturas, artesanatos, tatuagens, mosaicos, HQs ou grafite. Até em textos jornalísticos, à la Lecy Pinotti, temos talento para mostrar e nos orgulhar. 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.