Catanduva, 107 anos de xeque-mate e glória
Na véspera da Páscoa, quando o mundo cristão recorda Jesus Cristo, Catanduva celebrou seu próprio renascimento sobre os tabuleiros. No dia 19 de abril, o Ginásio do Gaviolli foi consagrado não ao culto dos deuses antigos, mas à nobre arte da estratégia, com a realização do IRT de Xadrez Rápido Catanduva 107 anos - um templo de silêncios tensos, movimentos precisos e mentes acesas como tochas olímpicas.
Promovido pela Prefeitura de Catanduva, por meio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (a gloriosa Smel), em parceria com a infatigável Liga do Enxadrista, o evento reuniu 123 gladiadores do raciocínio, oriundos de 15 municípios, em uma arena onde não se brandiam espadas, mas se empunhavam cavalos, damas e torres, numa dança milenar de intelecto e imaginação.
Catanduva - berço do grande GM Luis Paulo Supi, filho dileto da cidade e hoje gigante entre os titãs do tabuleiro - viu renascer em suas jovens gerações o sopro dos heróis antigos. Mais de 50 atletas locais deram cor e vigor à competição, mantendo acesa a chama que há tempos transforma a cidade numa referência regional no universo dos 64 quadrados.
Sob os auspícios dos deuses da lógica e da paciência, nomes ergueram-se como lendas em formação.
O pequeno André Amâncio, na categoria até 10 anos, brilhou com um feito digno de Perseu: venceu todas as suas batalhas, 6 em 6, deixando rastros de glória entre peões derrotados e reis encurralados.
No absoluto, Victor Misao Buriti, um jovem mestre nacional, desafiou o Olimpo e conquistou o troféu maior, com a serenidade dos sábios e a ferocidade dos leões de Nemeia.
Na categoria Master +50, Amilton Ramos subiu ao pódio como um velho Ulisses, experiente e hábil, navegando com segurança pelas águas revoltas das seis rodadas.
Mas nem só de troféus se teceu a narrativa. Ao lado do mérito esportivo, floresceu a bondade: 247 litros de leite foram arrecadados, ofertados com o mesmo espírito de sacrifício que outrora levava mirra e incenso às manjedouras. Tudo encaminhado ao Fundo Social de Solidariedade, para que o xadrez, além de formar campeões, também alimente os que mais precisam.
Catanduva, já centenária - e mais sete - não celebra apenas sua idade, mas sim seu vigor. Com o Gaviolli vibrante, atletas determinados e a comunidade reunida como em antigos ágoras, provou que, enquanto houver um peão pronto para avançar e um coração pronto para sonhar, haverá futuro.
E assim, na véspera da Ressurreição, vimos a cidade renascer em xeques e abraços, em partidas e promessas, reafirmando-se como um bastião do xadrez paulista.
Irmão X
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