Carnaval, Máscaras e Folia

O carnaval é um conjunto de festividades popular que ocorre em diversos países e regiões nos dias que antecedem o início da quaresma. Embora centrado no disfarce, na música e na dança, a folia apresenta características distintas em cada lugar onde a festa se popularizou.

Foram os gregos em meados dos anos 600 a 520 a.C., que através da festa do carnaval realizavam seu culto em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção, reverenciando o deus Dionísio.

No Brasil, o carnaval foi trazido pelos colonizadores portugueses, e a festividade se estabeleceu no país entre os séculos XVI e XVII, tendo como primeira prática o entrudo, uma brincadeira que era realizada dias antes do início da quaresma.

Em Veneza, as máscaras se referiam à atividade de vestir barba e bigode falsos, tendo também um apelido dado às mulheres que se disfarçavam de homens e aos homens que se disfarçavam de mulheres, e se tornou um símbolo de liberdade, de poder transgredir regras sociais numa época em que tal prática era impensável.

As máscaras venezianas nasceram com o famoso “Pierrot Colombina e Arlequim”, personagens da “Commedia dell'Arte”, gênero popular do teatro surgido na Itália.

Antigamente na África, as máscaras estavam ligadas a rituais religiosos de tribos africanas e representavam deuses e espíritos, sendo utilizadas como forma de dar força ao guerreiro e assustar os inimigos em guerras.

A simbologia da máscara está ligada a um universo representativo desde muito tempo, e em várias culturas, é um representante indispensável para compor o personagem a se incorporar. Sendo algo que vem de dentro ou somente como representante da festa, seu uso traz à cena uma parte de nós que se encontra muitas vezes adormecida, onde na festa do Carnaval, nos permitimos aflorar seu personagem. O semblante mesmo não se opondo à verdade, mostra uma face do próprio eu que tememos conhecer, ou que ignoramos saber que tem desejos.

A máscara é possivelmente o mais simbólico elemento da linguagem cênica e do carnaval em toda a história, e seu uso remonta representações primitivas e inconscientes, enquanto o objeto em si ou seus personagens representam ainda hoje algum mistério, e que através da festa do Carnaval nos permitimos transbordar seus elementos, sujeitos a interpretação de nós por nós mesmos.

Transbordar na folia é extravasar aquilo que não podemos fazer no cotidiano, sendo uma oportunidade de inculturação diante da riqueza que a própria festa é capaz de proporcionar, quando não se fica refém dos exageros.

Bom Carnaval a todos.

Texto escrito ao som da música “Ô abre alas”, de Chiquinha Gonzaga, cantada por Preta Gil.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©