Cara ou Coroa

Tem um cientista canadense chamado Philip Tetlock que juntou milhares de previsões sobre economia feitas por um grupo de especialistas, no período de alguns anos. Ao conferir os resultados, constatou que o índice de acertos era de 50%, ou seja, a mesma chance que se tem ao jogar uma moeda e escolher entre cara ou corôa. Posteriormente, ele estudou o mecanismo para se fazer previsões sobre um determinado tema, comparando grupos de especialistas no assunto e grupos de pessoas comuns. Na maioria das vezes, as pessoas comuns acertavam mais do que os especialistas. Com este resultado surpreendente, passou a estudar a lógica das previsões.

Concluiu que fazer boas previsões demandam mente aberta, cuidado, curiosidade e autocrítica. Especialistas normalmente já tem “...aquela velha opinião formada sobre tudo...”. ao contrário dos comuns, que por não conhecer um determinado assunto, precisarão coletar informações. O especialista é mais categórico e incisivo em suas opiniões. O comum, sem ideias pre-concebidas, busca mais informações para fazer uma previsão. O especialista costuma ler apenas sobre sua área enquanto o comum, movido pela falta de informações e pela curiosidade, costuma fazer buscas mais amplas sobre um determinado assunto. Por fim, o estudioso topou com um velho defeito da raça humana: a vaidade. Enquanto as pessoas comuns, diante de uma previsão errada, costumavam dizer apenas “errei”, os especialistas, com receio de perder a autoridade, buscavam desculpas para justificar o equívoco diante da previsão que não se concretizou.

Fiquei mais cético sobre previsões quando li os resultados da economia, no fim do ano. O PIB subiu, a inflação foi menor do que se esperava, a taxa de juros Selic também, o saldo da balança ficou quase o dobro. O dólar caiu. A bolsa bateu recordes e a taxa de desemprego caiu. Tudo ao contrário do que se esperava. Subestimaram mais uma vez o agro, a tecnologia na produção e o aumento da demanda de alimentos e energia no mundo.

Economia... Previsão de que jeito? Percebam a quantidade de itens a pesar: variação do dolar, solidez das constas externas, juros dos EUA, variação da taxa Selic, fluxo de capital estrangeiro, comportamento dos investidores de curto prazo, preço das commodities, crescimento da China, cenário fiscal doméstico, juros dos títulos americanos de 10 anos (essa doeu!), superavit comercial, superavit primário (o saldo das contas de um governo), os 58 conflitos armados locais e 10 guerras de maior abrangência acontecendo pelo mundo. Só faltou entrar na lista a trajetória da mula sem cabeça e o tamanho do salto do saci-pererê.

Dizem que os céus riem quando fazemos algum plano. Diante das previsões sobre economia, só nos resta torcer. Ou tirar no cara ou coroa. Deve dar tudo na mesma!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.