Calçadões como sinônimo de modernidade

Houve uma época em que o símbolo de modernidade estava expresso na construção de grandes fontes nas principais praças da cidade. Depois, na abertura de grandes avenidas ou na construção de prédios majestosos, magníficos, relembrando uma tradição clássica.

Houve também um período em que para uma cidade ser considerada moderna e ‘para frente’, deveria contar com amplos calçadões, que além de beneficiar o comércio, trazia beleza e imponência, dando maior liberdade para os pedestres circularem nos locais.

Catanduva não fugiu a regra. Já teve fonte, amplas avenidas, prédios clássicos e também os calçadões.

A moda surgiu na gestão do prefeito municipal Dr. José Alfredo Luiz Jorge, a partir do ano de 1983, grande defensor da construção dos calçadões.

“Os calçadões são, de fato, uma exigência da cidade moderna que Catanduva pretende continuar sendo. O comércio é extremamente favorecido, como também são favorecidos os que compram nesse comércio. A cidade ganha um ar de alegria, com as pessoas transitando normalmente, sem riscos, podendo olhar as vitrines com muito mais atenção e menor risco”, escreveu o ex-prefeito em uma revista de sua administração.

A primeira experiência no que diz respeito aos calçadões em Catanduva se deu com o Passeio do Café Manoel Hernandes, localizado ao lado da Praça da República. O local, que serviria para homenagear um dos grandes agricultores de Catanduva, foi inaugurado em dezembro de 1985 e a ideia da administração municipal da época era de se estender o calçadão em grande parte da rua Brasil.

Essa ideia da construção do calçadão no centro da cidade já tinha sido levantada anteriormente pelo prefeito Warley Agudo Romão, conforme descrito no jornal A Cidade, de 13 de fevereiro de 1979, que trazia a seguinte informação: “O prefeito Warley Agudo Romão está contemplando a possibilidade da instalação de mais um calçadão no centro da cidade, a exemplo do que foi feito no Parque das Américas. Seria a construção na Praça da República, mais precisamente na Rua Alagoas, entre a Maranhão e Brasil. Acha o chefe do Executivo catanduvense que o calçadão, além de modernizar o centro da cidade, facilitaria o enormemente o tráfego de pessoas”.

O calçadão no Parque das Américas, pela rua Brasil, serviu para interligar as duas quadras da referida praça (a praça onde está localizado o Terminal Urbano com a praça que está o prédio da Câmara e Prefeitura Municipal de Catanduva). Esse calçadão não caiu no gosto popular, pois sufocou muito o trânsito naquele trecho. Como prova disso, logo que assumiu o governo, o prefeito Dr. José Alfredo cancelou aquele calçadão, fazendo novamente a abertura da rua.

O Passeio

Em 09 de julho de 1985, a Prefeitura Municipal de Catanduva iniciou a construção do calçadão da Praça da República, projetada pelo arquiteto Lima Bueno, com assessoria do Departamento de Obras da Municipalidade.

Embora nem todos concordassem com a novidade, grande parte da população via com bons olhos a construção daquele espaço no centro da cidade, cidadãos importantes como Fuad Bauab, por exemplo, também expressaram seus votos positivos em jornais locais da época.

A inauguração do calçadão da Praça da República ocorreu no dia 21 de dezembro de 1985, onde, além desse local, uma série de inaugurações se realizou o longo do dia.

Para a festa, estavam presentes Dr. João Oswaldo Leiva, Secretário de Obras e Meio Ambiente; Dr. Waldemar S. Casadei, Diretor do DAEE; Dr. Orestes Quércia, vice-governador do Estado de São Paulo, além de uma série de outras personalidades.

A inauguração do Passeio do Café Manoel Hernandes teve início às 17h horas, e no mesmo local, foi assinado o convênio de perfuração do Poço Profundo, com 1.000 metros.

Após a inauguração, os presentes assistiram a um show com o ator Lima Duarte, que na época estava fazendo sucesso com o personagem Sinhozinho Malta, na novela Roque Santeiro.

Para marcar a inauguração, foi colocado, no início do calçadão, junto à esquina da rua Brasil, uma placa metálica, afixada em granito.

Calçadão da rua Brasil

Depois de implantar o calçadão da Praça da República, o prefeito Dr. José Alfredo Luiz Jorge decidiu fazer mais um calçadão na rua Brasil, entre as ruas Minas Gerais e Bahia, tendo como arquiteto responsável Lima Barreto, que contava com a colaboração da também arquiteta Maria Luiza Baldo Martins.

A principal diferença entre esses dois calçadões, é que o da rua Brasil teria uma canaleta no centro, a pedido do prefeito municipal, possibilitado a passagem de veículos.

De acordo com o Jornal da Região, de 19 de setembro de 1987, este afirmava que o calçadão “(...) terá floreiras, bancos, iluminação, orelhões e o piso com o desenho da administração municipal (as três mãozinhas) (...) A segunda fase do calçadão será iniciada após o término da fase em execução, da rua Bahia até a Sergipe”.

Nesse sentido, podemos perceber que se inicialmente o calçadão da rua Brasil compreenderia o trecho apenas das ruas Minas Gerais e Bahia, com o passar das obras ele foi se expandindo rua Brasil abaixo, chegando até a rua Paraíba.

Os comerciantes do último quarteirão da rua Brasil chegaram até a fazer uma abaixo-assinado, colhendo assinaturas para a extensão do calçadão naquele quarteirão, acreditando que isso traria aumento de fregueses em seus comércios.

Esse movimento, que teve a adesão também dos funcionários das lojas, foi encabeçado pelo Sr. Wilson Farizatto, proprietário da Juliana Calçados e apenas contestado pelo Sr. Anésio de Souza Sobrinho, da Farmácia Coração de Jesus.

Em 07 de agosto de 1988, no dia da reinauguração da Praça da Matriz, que tinha sido toda reformada, foi entregue também o calçadão, entre as ruas Cuiabá e Minas Gerais, completando a total remodelação desse trecho da cidade.

Pelo entender, a população da baixada não teve sua reivindicação aceita, pois até hoje o calçadão vai apenas até a rua Paraíba.

No final do mandato do prefeito José Alfredo Luiz Jorge, o calçadão estava pronto, mas ainda faltavam alguns complementos, que foi realizado pelo próximo prefeito Alexandre Nobalbos, que ocupava o cargo em substituição ao prefeito Warley Agudo Romão.

A administração de Nobalbos adquiriu os mosaicos que estavam faltando, concretou as floreiras e confeccionou os bancos, de acordo com o projeto inicial.

“A intenção do prefeito era terminar a obra utilizando serviços de firmas catanduvenses, mas mosaicos semelhantes só foram encontrados na primeira produtora, uma empresa da capital do Estado. Nobalbos afirmou que a escolha do calçamento foi infeliz, pois há grande dificuldade se de encontrar material de reposição. Portanto, foi adquirida uma quantia maior de mosaicos do que a necessária para a prefeitura ter esse material disponível em estoque”, nos informou o Jornal Opinião, de 28 de abril de 1990.

Os calçadões estão sendo repensados e alterados na gestão do atual prefeito municipal, Padre Osvaldo de Oliveira Rosa.

Fontes:

- Jornal Opinião, de 28 de abril de 1990.

- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, Nº 31, de junho de 2008.

Fotos:

Foto tirada no ano de 1987 da rua Brasil entre as ruas Minas Gerais e Bahia, na época da construção do calçadão da rua Brasil. Na foto, da esquerda para a direita: José Paschoal Figueiredo, José Roberto Louzado, Geraldo Coneglian, Haroldo Gondim Guimarães, prefeito José Alfredo Luiz Jorge, Baroni, Thomé Rahal e o popular Chaim Tayar

Foto da passarela que existia na rua Brasil, no Parque das Américas, ao lado do prédio da Prefeitura e Câmara Municipal de Catanduva, no ano de 1983. Foi construída na administração do prefeito Warley Agudo Romão e tirada na administração do prefeito José Alfredo Luiz Jorge, por atrapalhar o fluxo de veículos no local

Dia da inauguração do Passeio do Café Manoel Hernandes, em 21 de dezembro de 1985. Neste dia, esteve presente para o evento o artista Lima Duarte, que fazia sucesso com seu personagem Sinhozinho Malta, na novela Roque Santeiro, da Rede Globo. Nesta foto, Lima Duarte montado em um cavalo seguro por Abel Murr e no outro cavalo, Zé Mário, mais conhecido como Rei do Laço

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.