Brilho do urubu no escuro
Alguém —— em sã consciência —— se interessa por publicação que manipula a verdade? Não. Claro que não. Como é ruim quando as coisas não são como deveriam ser... A missão original do órgão de divulgação é informar, com tanta precisão quanto possível. Opiniões ficam por conta dos articulistas.
As dimensões de uma notícia não se medem com régua ou cronômetro. Ainda me lembro, quando criança, meus pais —— tal qual, creio que quase a unanimidade dos adultos da época —— ouviam o Repórter Esso. E qual era a convicção inflexível dos ouvintes? Deu no Repórter Esso? Então, é verdade! Assunto encerrado.
Hoje as coisas —— com esta ou aquela exceção —— não têm mais essa feição. Nos tempos atuais, é preciso que nos posicionemos com cautela ante aquilo que se ouve, ante aquilo se lê, ante aquilo que se vê, sob a feição de notícia. Tais órgãos não querem informar. Querem cooptar o cidadão. Querem seduzi-lo politicamente. Querem destruir o adversário da vez. Têm, na verdade, o brilho de um urubu no escuro.
É a escalada do bizarro, potencialmente perigosa, eis que desinforma e, de quebra, faz o jogo dos que querem o poder para usá-lo a seu talante, em detrimento da nação. E não importa do que mais! Já, já, estarão longe dos holofotes. O ostracismo os levará desta para melhor.
A posição adotada nem sempre fica em oposição aos fatos. Na manchete, exemplo singelo do que ocorre —— “O presidente ainda não assinou...” —— esse “ainda” demonstra tendência maliciosa. O “ainda” é sacanagem explícita. O escopo é demonizar. É algo absolutamente inaceitável!
Os textos informativos hão necessariamente de responder às Dez Categorias de Aristóteles: “o quê”, “quem”, “como”, “quando”... Por aí. E, dentre elas, não há espaço para tendências ou visões pessoais, sob pena de não ser considerada notícia.
A imprensa será nos séculos futuros —— se os estadistas do primeiro escalão o permitir —— a ciência do bem e do mal, como deixou escrito Walter Scott, lá no começo do século XIX. A tentativa, sem rubor, vai tomando corpo em trabalho sub-reptício. O propósito é transformar o cidadão, diante de publicações desprovidas de seriedade, em prosélito. Como diria Cícero “o! tempora! O mores”, “ó tempos, ó costumes!” E o que o leitor e o telespectador querem? É serem informados! É muito? E é tudo.
Há, evidentemente, o reverso da moeda, espécie original de toma-lá-dá-cá. O prejuízo que as fontes dessas publicações vêm sofrendo pela conduta adotada —— as circunstâncias o confirmam! —— é de proporções estelares. O negócio está secando como torneira que não conta com o apoio da caixa-d’água. Tal prejuízo pode ser aferido pelas respectivas tiragens, bem como pela reação do público, responsável direto pela redução do consumo dos órgãos de imprensa: “deixei de assinar!” “Não vejo mais o canal!”
Augusto Nunes, jornalista, fez recentemente comentário digno de nota: empresa que tinha tiragens diárias maciças edita, atualmente, quantidade de exemplares que atenderia, no máximo, o universo de leitores da cidade de Jundiaí! Nada mais que isso. Tudo em combinação de firmeza e justiça. Afinal, como deixou escrito Girardin: “quem faz o jornal não são os redatores; são os leitores”.
Por fim, mas não em último lugar, qual a razão para que as coisas ganhem essa feição? Resposta: vingança. Sim. Vingança. Nada obstante, não ficaria surpreso, se por traz da cortina houvesse significativa e compensadora persuasão monetária. É fato que os anúncios —— sem qualquer motivo de ordem publicitária ou promocional —— que provinham do governo federal sob em governos passados, desprovidos de razão de ser, deixaram de ser publicados. Exemplo: qual o sentido de promover comercialmente a Petrobrás, que tem o mundo como área servida, a um custo elevadíssimo?
De acordo com a tabela de preços disponível no site de Negócios, o comercial de 30 segundos, na tevê, para o mercado nacional custa R$ 508 mil reais!!! Resultado: significativa queda nas respectivas receitas. Prejuízo? Sim. Nada obstante, o maior prejuízo mesmo é o do cidadão, leitor ou telespectador, que quer estar bem informado e deixou de acreditar nas “informações” que lhe são servidas... Em termos de notícia, o cidadão perdeu a confiança.
Esse quadro poderia sofrer estorno num futuro, próximo ou não? Difícil refletir sobre a questão.
Esta objeção pode vir à luz: ué, o jornal escrito ou falado, não pode ter opinião? Pode. Claro que pode. Para isso há espaço do editorial e espaço de seus cronistas, onde podem baixar o chanfralho, deitar e rolar. Mas —— e esse é um mas de dimensões estratosféricas ——, a notícia, o retrato três por quatro dos fatos, sem retoques, quer em palavras, quer em imagens —— não pode ser distorcida. Não pode. Tem que ser a expressão daquilo que acontece. Afinal, um informativo que não informa pode ser qualquer outra coisa, menos informativo. Enquanto essa fatura estiver sendo cobrada, um dia, talvez, as coisas ocupem melhores lugares. A palavra fica com o bom senso. Certo?
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