Brasileiros ainda estão longe da conciliação

Os números são de cair o queixo — e não de admiração. Em Minas Gerais, no primeiro semestre deste ano, entraram mais de 228 mil processos trabalhistas. Quantos chegaram a uma audiência de conciliação? Menos de 27 mil. Traduzindo: pouco mais de 20% tiveram alguma tentativa de acordo. E, pasme, isso é o melhor desempenho do Sudeste.

O resto do país segue a mesma toada. No Brasil todo, mais de 2,4 milhões de ações trabalhistas bateram na porta da Justiça, mas só 21% foram para uma mesa de negociação. E isso numa época em que todo mundo vive falando em agilidade, tecnologia, ESG e “resolver as coisas de forma amigável”. No discurso, é lindo; na prática, a fila anda devagar, e o acordo continua sendo exceção.

O problema não é falta de espaço para negociar. É falta de estratégia, de visão — e, talvez, de vontade. Quem está no litígio prefere apostar no “ganha tudo” ou “perde nada” e segue gastando tempo e dinheiro enquanto poderia encerrar o assunto rapidamente, com menos custo e mais previsibilidade.

E não adianta botar a culpa só na Justiça do Trabalho. Os centros de conciliação estão aí, tentando fazer sua parte. Mas se quem está no jogo não quer jogar para fechar a partida, o placar não muda.

O fato é que o país ainda prefere transformar cada briga em novela processual, mesmo com as ferramentas para resolver o enredo no primeiro capítulo. Enquanto isso, continuamos entupindo tribunais, torrando recursos e comemorando índices que, sinceramente, são uma vergonha para qualquer sistema que se diz moderno.

Quer mudar? É simples: parar de empurrar com a barriga e começar a trocar disputa por acordo. O resto é enrolação.

Gregório José

Jornalista, radialista e filósofo

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Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.