Brasão de Armas de Catanduva (I)

“As pessoas que à noite vão até a Praça da República para descansar nos bancos lá existentes, fazer footing ou simplesmente por lá passar para irem ao cinema, já se acostumaram com a bela fonte e com o jardim suspenso e já se acostumaram também com o escudo de armas todo desbotado, de há muito pedindo pintura nova, preso à parte superior da pérgula.

A quase totalidade da população sabe que tal insígnia é o Brasão de Armas de Catanduva, porém, quantos não param, olham, pensam um pouco, fazem conjecturas, perguntam ao companheiro ao lado e desistem de saber o que cada um daqueles símbolos lá gravados representa, isto porque pouca divulgação feita, poucos são os que realmente conhecem o seu significado”.

Esse é um trecho encontrado em um artigo da Revista O 14 de Abril, de 14 de abril de 1964, e trazia a inconformidade do descaso e da desinformação a respeito do Brasão de Armas de Catanduva, que, ao longo de sua história, sofreu modificações em três momentos.

O primeiro Brasão

Pela Resolução Nº 299, de 13 de outubro de 1953, aprovada pela Câmara Municipal de Catanduva e transformada em Lei pelo prefeito Ítalo Záccaro, sob o Nº 223, de 16 de outubro de 1953, ficou criado o Brasão de Armas de Catanduva.

A Resolução citada trazia a seguinte redação, em seus artigos:

“Artigo 1º - Fica instituído o Brasão de Armas do Município de Catanduva.

Artigo 2º - O Brasão de Armas do Município de Catanduva terá as seguintes características: escudo de formato redondo, português, esquartelado em cruz, encimado pela coroa mural das cidades. No primeiro campo, de goles vermelho, um escudete com a cruz florente que é dos Moreira; no segundo quartel do mesmo esmalte, três coroas murais de prata, postas em roquete, de blau azul, uma estrela de prata resplandecente e de oito pontas; no quarto quartel, do mesmo esmalte, uma faixa de prata ondulante.

Como símbolo exterior, uma coroa mural de ouro, como suportes de prata, dois ramos de café frutificados na sua cor natural e um listel de prata, em letras de goles vermelho “Deo et Patria in primis et ant omnis” [Deus e Pátria em primeiro e antes de tudo]

Artigo 3º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

Símbolos do 1º Brasão

Neste primeiro brasão, era possível encontrar os seguintes símbolos:

O escudo, de formato redondo, português, simbolizava nossa origem portuguesa.

O escudete de prata, no 1º quartel, de góles vermelho com a cruz sinopla (verde) é do brasão dos Moreiras de origem portuguesa, que de acordo com a história foi um dos fundadores de Catanduva.

As coroas murais no 2º quartel, de prata, em campo também de góles (vermelho) simbolizam os três distritos de Catanduva, na época: Catiguá, Elisiário e Palmares Paulista, que quando da feitura do Brasão constituíam o município de Catanduva.

A estrela de prata, com oito pontas, em campo de blau (azul), no 3º quartel, é a vocação a São Domingos, o padroeiro da cidade, pregador de nomeada, fundador da Ordem Dominicana e

muito venerado , cuja figura sempre vemos ao alto de sua cabeça aquela estrela luminosa. Este símbolo é também a lembrança da primeira Vila de São Domingos do Serradinho, mais tarde denominada Vila Adolfo.

A faixa de prata ondulante no 4º quartel, de blau (azul) é o Rio São Domingos que enriquece e vivifica as terras férteis de Catanduva.

A coroa mural é o símbolo da cidade, sendo sua forma já consagrada nos brasões de cidades brasileiras. É de ouro, para lembrar a pujança de Catanduva.

Os ramos de café frutificados em sua cor natural, simbolizam não só a base da riqueza do município, como também a onda verde dos cafezais paulistas, a coluna mestra da economia nacional.

A legenda latina ‘Deo et Pátria um primis et ante omnia’ é o apanágio do povo de Catanduva, que com sublimado devotamento, com os olhos voltados para Deus e a Pátria, são os denodados e incansáveis cooperadores da grandeza do Brasil.

Os esmaltes do Brasão – o vermelho (goles), é o espírito de luta, audácia e tenacidade, qualidades estas comuns à gente catanduvense e o azul (blau), é o símbolo da nobreza dos seus sentimentos e da majestade dos seus atos.

O criador do Brasão de Catanduva

Uma das questões levantadas nesse primeiro momento da criação do Brasão de Armas de Catanduva era o fato de quem teria sido o seu criador.

A resposta a essa pergunta veio publicada no Jornal Opinião, de 04 de junho de 1986, e trazia a seguinte informação: “Hélios Tricca, esportista e músico conhecidíssimo na cidade informou que o autor do brasão catanduvense foi Baby Barione, o fundador dos Jogos Abertos do Interior”.

Baby Barioni foi designado pelo Estado para ser o treinador do Cruzeiro Cestobol Clube. Mas o clube catanduvense não tinha uniforme. Então ele mandou confeccionar o uniforme, num azul belíssimo, e desenhou o brasão do município, que também não existia. Primeiramente o símbolo foi usado nos uniformes do Cruzeiro, sendo oficializado pelo prefeito Ítalo Záccaro tempos depois.

Novo brasão

Durante muitos anos esse brasão ficou pendurado na pérgula da Praça da República, bem em frente a fonte luminosa.

Porém, na década de 1970, Catanduva passou a ter um novo Brasão Municipal, durante a administração do Sr. João Righini, que esteve a frente da prefeitura entre 1º de fevereiro de 1969 até 31 de janeiro de 1973, assunto que trarei nesta coluna na semana que vem.

Fonte de pesquisa:

- Jornal A Cidade, de 30 de agosto de 1953.

- Revista 0 14 de Abril, de 14 de abril de 1964.

- Jornal Opinião, de 04 de junho de 1986.

- Boletim Só 10, ano VI, Nº 71, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, publicado em agosto de 2015.

 

Fotos:

Primeiro brasão de Catanduva, instituído no ano de 1953. Trazia a inscrição em latim “Deo et Patria in primis et ante omnia”, ou seja, “Deus e Pátria em primeiro lugar e acima de tudo”

O primeiro brasão municipal foi instituído durante o mandato do prefeito municipal Ítalo Záccaro (o segundo da esquerda para a direita), através da Lei Nº 223, de 16 de outubro de 1953

Durante muitos anos esse brasão ficou pendurado na pérgula da Praça da República, bem em frente a fonte luminosa. Nesta foto, Praça da República ao lado da rua Alagoas, em 1954

De acordo com informações de Hélios Tricca, em jornal da década de 1980, o autor do brasão catanduvense foi Baby Barioni (foto), o fundador dos Jogos Abertos do Interior

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.