Boa, Rubinho!

Se tem algo que me incomoda é o hábito do povo brasileiro só valorizar a vitória e desprezar a derrota. É da nossa cultura enaltecer apenas os vencedores. Pior do que isso, é achar que tudo aconteceu num passe de mágica, que basta o talento para superar tudo. O esforço dispendido pelos vitoriosos não é citado. Ficar com o vice-campeonato não serve. Ir para uma fase final de algum esporte na olimpíada, mesmo que não ganhe uma medalha, apesar de ser um grande feito, é solenemente ignorado. 

Lembrei-me disso tudo porque nesta semana, Rubens Barrichello completou 50 anos. Eu cresci vendo Emerson Fittipaldi ser bicampeão da Fórmula Um. Depois vieram Nelson Piquet e Ayrton Senna. Ambos tricampeões da categoria. Com a aposentadoria de Piquet e morte de Senna, automaticamente as expectativas de vitória e as cobranças recaíram sobre o jovem Barrichello. E os brasileiros nunca o pouparam por não substituir nem um nem outro. 

Rubinho tem números impressionantes nos seus 18 anos de Fórmula Um. Foi o terceiro que mais disputou corridas. Foram 322. É o oitavo piloto com mais pódios. Foram 68. Se aplicarmos o atual sistema de pontos para todas as corridas desde o início da Fórmula Um, ele seria o sétimo a fazer mais pontos em toda a história. Venceu onze corridas. Foi vice-campeão duas vezes, em 2002 e 2004. Correu por seis equipes. Três pequenas, a Jordan, a Stewart e a Brawn GP. E correu por três equipes grandes, a Honda, a Willians e a lendária Ferrari, onde ficou por seis anos. 

Na Ferrari, seu parceiro era Michael Schumacher, escolhido como primeiro piloto da escuderia. Isto significava que o alemão tinha a prioridade nos contratos e nas estratégias de corrida. Isto ficou evidente na triste corrida (Áustria – 2002) onde Barrichello liderava com folga e prestes a vencer teve que desacelerar para Schumacher ultrapassa-lo. Foi um escândalo. O circo da Fórmula Um fingiu espanto e até multou a Ferrari. Mas isto sempre existiu. Senna e Piquet foram beneficiados pela mesma lógica. Mesmo antes deste fato, programas humorísticos eram impiedosos com ele. No entanto, ele sempre manteve a classe, levando tudo na brincadeira. Chegou até a participar de um programa do Casseta e Planeta. 

Antes da Fórmula Um, foi campeão em várias categorias. Depois, teve uma rápida passagem pela Fórmula Indy e veio para a Stock Car brasileira, onde permanece até hoje. Chama muito a atenção que antes, esta era uma categoria do automobilismo brasileiro onde playboys pareciam brincar de “tromba-tromba” de parque de diversões. Depois da chegada de Barrichello, o nível subiu bastante e os competidores começaram a se aperfeiçoar e pilotar de verdade. 

Sem dúvida, uma carreira bonita e vitoriosa. Ele tem muito a comemorar e os brasileiros, muito do que se orgulhar. Parabéns Rubinho. Valeu!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.