Berros e sussurros

Acompanhei as Olimpíadas de Paris. Acordava de madrugada para assistir. Principalmente aos brasileiros. Vi muita coisa boa. O mundo definitivamente é multilateral. Uma diversidade muito grande de países ganhou destaque em modalidades antes dominadas apenas por uma elite restrita de países.

                É impossível passar incólume pela história de superação de tantos atletas. Ser atleta no Brasil é um desafio gigantesco. Teve quem treinou em condições precárias e mesmo assim conquistou o direito de ir para a Olimpíada. Isto já é uma grande vitória. Alguns chegaram às finais de sua modalidade. Ainda que não tivessem ganho uma medalha, é uma façanha. Vários atletas de modalidades praticamente inexistentes no Brasil foram bem. A equipe olímpica conquistou medalhas tidas como improváveis pelos críticos. Ainda bem que nunca dei muita bola para os críticos. Pelo jeito, as atletas também não.

                Entretanto, algo me incomodou bastante durante os jogos: as transmissões. Salvo honrosas exceções, foi um festival de baboseiras e platitudes. Parcela expressiva dos locutores parou no tempo. Fico pensando se eles realmente acreditam que o público gosta de arroubos histéricos. Será que eles acham que o telespectador se comove com a história da pátria de chuteiras e comentários com “emoção”? Frequentemente os locutores simplesmente gritavam a plenos pulmões um repertório de pieguices. Em tempo: não é só porque o atleta ganhou uma medalha que ele me representa. Todos os atletas e suas respectivas comissões técnicas me representam! Não importa o resultado.

                Num dos esportes de combate, quando os árbitros apontaram a vitória da adversária da brasileira. Árbitros que vivem no mundo do esporte e entendem do assunto. Geralmente foram atletas. E o locutor, que nunca pisou num ringue ou num tatame, questionava a lisura dos resultados. Constrangia os atletas que participavam das transmissões. Detesto quando justificam uma derrota dizendo que os árbitros “garfaram” o resultado.

                Locutores difamaram adversários. Culparam os juízes pelas derrotas dos brasileiros. Faziam balanço do desempenho brasileiro contando com medalhas ainda não ganhas. Tentaram criar um clima de complô internacional contra o Brasil. Quem disputa os jogos tem que saber perder. Atletas, comissão técnica e principalmente, os locutores.

                Mas o pior mesmo era quando os repórteres de campo perguntavam aos derrotados como eles estavam se sentindo logo após a derrota. Esperavam que o atleta chorasse ou balbuciasse desculpas para a nação. Além da maldade, do mal gosto e da inconveniência, revela uma falta de empatia. Perder não é vergonha. Do outro lado também tem adversários à altura, da mesma qualidade. Não tem porque sair de cabeça baixa.

                Dizem que velhos não gostam de gritos e barulho. Acho que já deu para mim...

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.