Bem sozinho, melhor contigo

Muitos casais, depois de algum tempo de convívio, discutem e reclamam sobre diferenças na forma de agir entre os parceiros. Diferenças essas que podem se tornar um indicativo da necessidade de mudança na forma de conversar e resolver problemas. A maior dificuldade dos casais é conseguir comunicar suas necessidades da forma como elas realmente são, pois o medo de “ofender e magoar” o outro é um impeditivo para que as boas saídas e resoluções de problemas aconteçam.

Como não conseguem resolver as diferenças, ambos iniciam uma briga com suas próprias ansiedades, medos, irritabilidades, depressões e, finalmente, culpas. Invariavelmente, um dos parceiros inicia uma série de ataques ao outro. O grande complicador é quando o outro acata todas as acusações como se fossem reais e cede à vontade do outro sem sequer discutir com o parceiro outra forma de resolver o problema. Um exemplo: ela pede para saírem, dançarem e se divertirem um pouco com os amigos, e diz que é uma necessidade dela. Ele responde que está cansado porque trabalhou demais e geralmente usa a seguinte frase: “Estou estressado”. Assim, ela fica em casa por solidariedade e amor ao parceiro. Esse tipo de comportamento do casal começa a ser uma constante e a raiva e rancor passam a fazer parte do dia a dia dos dois como se fossem a tônica do relacionamento.

Pode ser que em algum momento o convite para alguma atividade social parta dele. Aí, é a vez de ela, movida pela raiva, dizer que está estressada e com dor de cabeça, decidindo não ir. Ele se culpa por ela não ter ido sozinha na última vez e fica ao seu lado, em nome da solidariedade e do amor. Mas a raiva também aparece. Enfim, inicia-se aí uma enorme bola-de-neve que os impede de serem seres individuais numa vida a dois. Desse momento em diante, todo e qualquer ponto de conflito os levará a uma retomada da raiva inicial e todas as suas brigas e necessidades internas serão trazidas à tona direcionando-se àquelas incapacidades que julgam ser do outro.

Quando perguntamos ao casal sobre o que fazem individualmente para ter lazer e qualidade de vida, eles respondem: nada. Obviamente com a justificativa de ser muito próximos e de não se sentir bem o bastante para ir a um programa sozinhos. Os casais não percebem que, para haver harmonia entre eles, existe a necessidade de estar bem consigo mesmo e de poder ter prazer com coisas próprias.

O casal capaz de preservar suas individualidades e de ir em busca de seus interesses pessoais pode estar em um momento de intimidade maior do que aqueles que se encontram sempre juntos vivendo uma vida estressada por não terem o que contar um ao outro.

No processo psicoterapêutico de casais, o momento mais importante é aquele em que cada um dos dois se reconhece como um ser único, que está com o outro por vontade própria e não por conveniência, medo, culpa ou qualquer outra coisa que não seja por vontade de estar. Nesse momento, os casais sentem-se ameaçados por não confiarem no sentimento bom do outro. Acreditam nunca se amar verdadeiramente. O que, na maior parte das vezes, é fantasia. Podemos sempre buscar formas de fazer coisas boas individualmente e, a partir disso, fazer o melhor pelo casal.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp