Barsa – 60 anos
Parece aqueles filmes futuristas, onde mostra a Terra arrasada, depois de uma guerra ou de uma epidemia. Mas houve uma era em que não existiam computadores pessoais, Windows, internet, celular, Whatsapp, Youtube, Tik Tok, Facebook, Telegram, Twitter e Instagram. Eu vivi esta era. Escrevia à mão e lia livros de papel. As fontes de informações eram as pessoas do convívio direto, professores, bibliotecas, jornais, rádio AM e televisão. “Só isso”.
TIve um diferencial. A Enciclopédia Barsa. Era uma coleção de 16 livros de capa vermelha, de percalux, com 130 mil verbetes de “A” a “Zwingli”. Para a época, tudo o que era importante estava ali. A editora-chefe era uma norte-americana vinda da Califórnia, naturalizada brasileira, Dorita Barret de Sá Putch. Seu pai era editor-executivo da “Encyclopaedia Britannica”, obra de origem escocesa com mais de 200 anos de história. Apesar do nome, desde o começo do século 20 era editada nos Estados Unidos, capitaneada pela Universidade de Chicago. Barret vislumbrou a possibilidade de, com base no original, lançar uma enciclopédia brasileira.
Quem chefiou as primeiras edições foi o jornalista e escritor Antônio Callado. Teve a missão de abrasileirar a britânica e dar um peso à cultura nacional, 30% do total. Encomendou a diversos escritores textos não só informativos, mas também argumentativos. O arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer escreveu sobre Brasília. O historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda fez o texto sobre São Paulo. Jorge Amado o verbete sobre o cacau. O sociólogo Gilberto Freyre redigiu tanto o texto sobre Pernambuco quanto aquele em que detalhava a importância do açúcar para a história econômica brasileira. O verbete sobre o Ceará foi feito pela escritora Rachel de Queiroz. Este elenco de escritores conferiu bastante peso à obra. Além deles, tinha uma rede de colaboradores de 257 redatores.
Era um investimento muito caro. Custava 350 mil cruzeiros, quase dez por cento do preço de um fusca zero. Vendeu muito! Sua primeira edição, de 45 mil coleções, se esgotou no mesmo ano do lançamento, 1964. No auge, em 1990, 120 mil. Atualmente, ela sobrevive pela internet e pasmem, ainda é vendida em papel. Teve concorrentes como a Delta Larousse e a Mirador Internacional. Uma curiosidade: o nome Barsa não tem significado. É uma junção do sobrenome de Dorita Barret com o de seu marido, o diplomata Alfredo Almeida Sá. “Bar” mais “Sá”.
É uma das minhas melhores memórias da infância. Significa muito para mim. Representa o investimento suado que meus pais fizeram pensando na minha educação e na dos meus irmãos. A Barsa representa a metáfora perfeita de como, para os imigrantes que nunca tiveram acesso ao ensino universitário, a educação dos filhos era a maior prioridade. Valeu cada centavo!
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