Aurélio - 50 Anos

Há relatos de que os primeiros dicionários surgiram na civilização suméria, há seis mil anos. Mas eles só se popularizaram no século 15, com a invenção da imprensa por Gutemberg. O dicionário do Aurélio, cujo nome tornou-se sinônimo de dicionário, está comemorando os 50 anos do seu lançamento. Foi um grande marco na história do nosso idioma e da nossa literatura. Ao longo de sua história editorial, vendeu mais de 15 milhões de exemplares. Leva o nome de seu organizador, o lexicógrafo alagoano Aurélio Buarque de Holanda (1910 – 1989), primo de segundo grau do cantor Chico Buarque de Hollanda. No Brasil, apenas a Bíblia alcançou esse volume de vendas.

A primeira edição, tiragem inicial de 18 mil exemplares, consistia em um calhamaço com 1536 páginas e 120 mil verbetes. Foi um sucesso. O país, por incrível que pareça, não tinha um dicionário genuinamente brasileiro deste porte. O seu único rival, o dicionário do Houaiss, surgiu apenas 26 anos depois, em 2001.

O dicionário tinha como fontes principalmente autores novos, que predominavam sobre autores antigos. Não que Aurélio ligasse para essas coisas, mas, sofreu severas críticas de parte dos especialistas por uma suposta falta de rigor lexicográfico. A verdade é que para os simples mortais, não fazia muita diferença. Suas definições eram de uma relativa simplicidade e isso bastava para as demandas do cotidiano. Por trás de Aurélio, existia um grupo de especialistas liderados por Joaquim Campelo, intelectual maranhense contemporâneo de José Sarney e do poeta Ferreira Gullar. Joaquim iniciou uma contenda judicial por direitos autorais, vencida pelos herdeiros de Aurélio.

Atualmente os dicionários, inclusive o Aurélio, perderam espaço para a gratuidade da Internet. Buscar o significado de uma palavra é bem mais fácil e rápido numa tela de celular ou de um computador. Os grandes dicionários do mundo foram obrigados a se reinventar. Adotaram estratégias variadas. A atualização é feita em tempo real. Alguns fecharam seu conteúdo apenas para assinantes. Outros disponibilizaram o conteúdo gratuitamente na rede, mas os recursos avançados são pagos. Adotaram ainda como atrativos para fidelizar a clientela jogos e passatempos envolvendo palavras. E o Aurélio é disponibilizado para os clientes da rede de ensino que possui seus direitos, embora o público também possa assiná-lo.

Eu sou um dos dinossauros que se adaptou bem aos livros digitais. 95% do meu trabalho é feito com base neles. Mas não saem da minha mesa a última edição do Cecil – Tratado de Medicina Interna, um Oxford, dicionário completo da língua inglesa, preciosidade que ganhei do professor Pérsio Marconi, e o velho Aurélio. Por maior que seja a modernidade, certos hábitos não vão embora. “Um grande amor não se acaba assim”.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura