Associação Orquidófila Catanduvense
Chamamos de orquídeas todas as plantas que compõem a família Orchidaceae, pertencente à ordem Asparagales, uma das maiores famílias de plantas existentes. Apresentam muitíssimas e variadas formas, cores e tamanhos e existem em todos os continentes, exceto na Antártida, predominando nas áreas tropicais. As orquídeas crescem sobre as árvores, usando-as somente como apoio para buscar luz; não são plantas parasitas, nutrindo-se apenas de material em decomposição que cai das árvores e acumula-se ao emaranhar-se em suas raízes.
As orquídeas têm fascinado os homens por mais de dois mil e quinhentos anos. Foram utilizadas no passado em poções curativas, afrodisíacas, para decoração e ocuparam grande papel nas superstições. Há diversas referências ao interesse do filósofo chinês Confúcio por estas plantas. No entanto, a maioria das menções sobre Confúcio e estas flores, em que ressaltava as propriedades de seu perfume ao qual atribuía o caráter Lán, que significa beleza, delicadeza, amor, pureza e elegância, vem de textos publicados por seus seguidores e admiradores. A China tem longa história na apreciação destas flores.
Na Europa existem registros do período clássico grego de Teofrasto de Lesbos, cerca de 300 AC. Em seu trabalho “Historia Plantarum”, volume 9, descreve uma planta com dois pequenos tubérculos subterrâneos aos quais chama orchis, que corresponde à palavra testículos, possivelmente um exemplar de Anacamptis morio.
Antes dos espanhóis conquistarem o México, a fruta de Tlilxochitl, uma espécie de Vanilla, era a mais estimada dentre as especiarias astecas. Os astecas utilizavam também algumas espécies de orquídeas para fabricação de cola.
Antes de introdução de espécies exóticas na Europa, as orquídeas eram há muito cultivadas como plantas de jardim. A primeira orquídea introduzida na Europa foi um exemplar de Brassavola nodosa que chegou na Holanda em 1615. Em 1688 desembarcaram as Disa uniflora vindas da África do Sul.
Provavelmente devido à sua supremacia, diversas coleções importantes formaram-se na Inglaterra durante o século XIX. Em 1818 chegaram os primeiros exemplares de Cattleya labiata provenientes do Brasil, causando grande sensação e reforçando ainda mais o interesse pelas espécies tropicais destas plantas.
Catanduva
Nossa cidade, assim como várias cidades do país e do mundo, aprecia muito o cultivo de orquídeas.
Antigamente, o meio orquidófilo era predominantemente masculino, mas um fato acontecido agiu como processo de mudança e foi destaque no Brasil, sendo publicada, na época, uma reportagem do acontecimento em uma revista da renomada Editora Abril.
De acordo com Alexandre Angelo, membro da associação, em entrevista ao “Jornal Atual”, em 24 de novembro de 2002, este relembra que “o fato em questão dita que a primeira associação orquidófila brasileira a ter uma mulher como presidente, a Sra. Helena Tricca, de saudosa memória, foi a Associação Orquidófila Catanduvense, no ano de 1972”.
E é possível ver, através de notícias de jornais ao longo dos anos, o sucesso que a exposição de orquídeas atinge em Catanduva, tendo seu funcionamento em diversos lugares: na Pérgula da Praça da República, no prédio do Armazém do Café, no Garden Shopping Catanduva, no Colégio Nossa Senhora do Calvário. Além da simples exposição, em alguns anos, o evento contava com ciclo de palestras a respeito da temática e almoço beneficente.
A dama das orquídeas
Nascida na cidade de Olímpia, em 06 de março de 1911, D. Helena Rosa Tricca durante cinco décadas dedicou-se ao cultivo de orquídeas, recebendo vários prêmios pelo seu trabalho, sendo, inclusive, autora de um modelo de vaso próprio para o plantio da flor. Muitas pessoas dizem que ela era uma verdadeira “dama das orquídeas”.
As orquídeas que cultivava nunca foram comercializadas, mas sempre foram doadas com finalidade beneficente. Faleceu no ano de 1992 e hoje uma espécie de orquídea leva seu nome.
Pesquisando um pouco sobre Dona Helena Tricca, encontrei um pequeno texto, de autoria de Maria Nechar Rodrigues Alves, publicado no jornal “O Regional”, de 21 de junho de 1992, por consequência do falecimento de D. Helena, que pela grande sensibilidade, achei oportuno reproduzir.
“Na brisa leve que passava, lá ia um cortejo levando o adeus a um ser diferente e belo. Nos olhos suavemente cerrados, as mãos postas em cruz, a boca na amenidade do sorriso inerte, hauria já – quem o sabe – o sabor sereno da contemplação etérea.
Via-te assim, deslizando alheia ao derredor, porque as campinas em flor do céu era o que caminho que trilhavas.
Via ao longe, distintamente, os hinos alvisseiros que acompanhavam a tua caminhada rumo aos paramos celestiais. Ao fundo, um coreto ornamentado de flores, muitas flores – Ah! Eram orquídeas – e não poderiam deixar de sê-lo, porque nobres em seu porte e em sua beleza, eram a imagem da mesma excelsa nobreza que iriam agasalhar. E chegastes. Uma só orquídea na mão cinérea, majestosa, levemente entreaberta na frescura e na magia encantadora de seu colorido.
E foste caminhando qual rainha – que a foras toda vida como mãe, esposa e amiga – para o trono já ornado com todas as orquídeas, de todos os matizes, com toda a essência que emana. E uma voz acariciante e divina chamou-te para o trono. Senta-te e cânticos leves cantaram em coro: “Hosana, Dama das Orquídeas”.
Havia sussurros discretos, quiçá daqueles que esperavam ansiosos para afagá-la no mais amplo e querido amplexo; homenageá-la, louvá-la, estreitá-la com carinho. Sentir a plenitude daquele canteiro bordado de flores que criou, para encantamento de um mundo para todos.
Agasalhada assim por este ramalhete deslumbrante, serás a estrela formosa, que formarás a constelação perfumada, com que o Senhor ornamentará ainda mais Sua sacrossanta casa.
Está florido o céu, nossa inesquecível amiga.” (Maria Nechar Rodrigues Alves).
Fonte de Pesquisa:
- Jornal O Regional, de 21 de junho de 1992.
- Jornal Atual, em 24 de novembro de 2002.
- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino
Foto: Dona Helena Tricca foi a primeira mulher no Brasil a presidir uma associação orquidófila brasileira, aqui na cidade de Catanduva, em 1972. Nesta foto, em exposição no Clube de Tênis, no ano de 1974.
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