Ascensão gremista de 1988 (II)

A partida entre o Grêmio e o Taubaté foi dramática. Até mesmo com direito a bola do Taubaté na trave do Grêmio. No final do jogo, depois de uma partida bastante disputada, o resultado foi 0 a 0. O empate favoreceu o time de Catanduva que manteve a liderança do Grupo 3, somando mais um ponto. Depois daquele jogo, o Grêmio somava 13 pontos, contra 12 do Taubaté. Uma vitória simples na próxima partida, que seria em Catanduva, no Estádio Silvio Salles, contra o time do Rio Preto, classificaria o Grêmio para a primeira divisão e o colocaria na disputa final do campeonato contra o Clube Atlético Bragantino.

Rio Preto

O jogo mais importante nesse período aconteceu no dia 11 de dezembro de 1988, um domingo. A cidade amanheceu vermelho e branco. O “Caldeirão da Bruxa” recebeu um público de, aproximadamente, 13 mil pessoas, contabilizadas 10.175 pagantes.

A Federação Paulista de Futebol escalou o árbitro Ilton José da Costa para apitar a partida, o que acabou não agradando os dirigentes do Grêmio.

A oposição política de José Alfredo espalhou pelos quatro cantos da cidade que o juiz estava comprado pelo Taubaté.

Mesmo com a derrota de seu candidato nas eleições daquele ano, Sr. João Alberto Caparroz (PMDB), José Alfredo estava se beneficiando politicamente da boa campanha do time. Então, seus opositores, que haviam vencido as eleições municipais, articulavam manobras contra o clube para indiretamente prejudicar o prefeito.

O clima pré-jogo era uma mistura de expectativa, nervosismo e também receio, porque no ano anterior o mesmo Rio Preto tinha eliminado o Grêmio aqui dentro da cidade.

O técnico Urubatão Calvo Nunes mandou a campo a equipe titular, sem nenhum desfalque: Paulo César, Valdir, Miranda, Roberto, Jacenir, Rubinho, Níveo, Cabé, Popéia, Claudinho e Roberto Carlos.

O Grêmio Catanduvense venceu o jogo por 1 X 0, com um gol de coxa do centro-avante Roberto Carlos, que atuava machucado, aos 36 minutos do segundo tempo e conquistou a tão sonhada vaga para a primeira divisão.

Caso não conseguisse a difícil vitória, apesar de liderar com um ponto de diferença o seu grupo antes do início da última rodada, o time de Catanduva não conquistaria a vaga na primeira divisão. A partida entre Taubaté e Comercial de Ribeirão Preto terminou em 4 a 2 para a equipe de Taubaté. O resultado classificava o “Burro da Central”, caso o jogo de Catanduva acabasse empatado ou com derrota do Grêmio.

Problemas financeiros

Em 1988 não houve só alegria e festa. Não seria uma típica história de futebol brasileiro se não tivesse problemas envolvendo dinheiro.

Antes de entrar em campo, para enfrentar o Rio Preto, no jogo que decidiria a classificação do Grêmio para a primeira divisão, os jogadores cobraram da diretoria alguma garantia de que iriam receber o “bicho”, prêmio pelas vitórias já conquistadas.

“Faltando uma hora para a partida começar, foi dado um cheque a cada jogador. O cheque era pré-datado para 31 de dezembro”, segundo relato de um dos jogadores da época, Carlos Alberto Margutti, o Cabé, no livro “Paixão Futebol Clube: as alegrias e tristezas do esporte mais popular do país em Catanduva”.

Segundo ele, “entre os dias 12 e 13 de dezembro, alguns jogadores descontaram os cheques. O dinheiro, porém, estava na conta para pagar férias, 13º salário, fundo de garantia. O banco avisou a diretoria que alguns cheques haviam sido descontados. O restante acabou sustado. Quando os outros jogadores foram descontar os cheques na data marcada, estavam sem fundo”. Cada jogador entrou com uma ação contra o Grêmio Esportivo Catanduvense.

Posteriormente, todos os jogadores receberam o dinheiro, menos o Brecha, que não quis.

Novo estádio

Durante a disputa das fases finais do campeonato paulista da segunda divisão de 1988, o então prefeito municipal, José Alfredo Luiz Jorge, construiu, com recursos públicos, um novo estádio municipal, localizado na Vila Soto, para substituir o Sílvio Salles. Com capacidade de aproximadamente 20 mil pessoas, o novo campo foi batizado de Alfredo Jorge Abdo, o “Alfredão”, nome do falecido pai do citado prefeito.

Posteriormente, a Câmara Municipal de Catanduva derrubou a resolução do Executivo e retornou o nome de Estádio Silvio Salles para o estádio municipal.

O antigo estádio foi implodido, e em seu lugar foi construído o Garden Catanduva Shopping.

“Eu coloquei 300 homens trabalhando das seis da manhã às seis da tarde e mais 300 das seis da tarde às seis da manhã. Fizemos o estádio em 90 dias”, afirma José Alfredo.

O primeiro jogo no novo estádio, que na época recebera o nome de Alfredo Jorge Abdo, foi no dia 14 de novembro de 1988 entre uma seleção de jogadores da região de Catanduva contra um time misto do Santos Futebol Clube. A partida terminou empatada em 1 X 1. O primeiro gol marcado no novo estádio foi do jogador Brecha, de pênalti, no primeiro tempo.

Decisão

A primeira partida oficial no então estádio “Alfredão” aconteceu em 15 de dezembro, entre Grêmio Esportivo Catanduvense e Clube Atlético Bragantino. Já classificados para a primeira divisão no ano seguinte, as equipes disputaram o título da segunda divisão.

O destino reservou ao Grêmio uma derrota em sua primeira partida oficial no estádio, que seria palco da extinção da equipe e, mais adiante, da extinção do futebol profissional de Catanduva.  O Bragantino venceu o jogo por 2 X 0.

No dia 18 de dezembro, no estádio Marcelo Stéfani, em Bragança Paulista, O Grêmio sofreu nova derrota, dessa vez por 3 X 0.

Fonte de pesquisa:

 - Livro-reportagem “Paixão Futebol Clube: as alegrias e tristezas do esporte mais popular do país em Catanduva”, de autoria de Andreza Davanzo, Enio F. Franco, Fabiana Helena Soligo e Fernando R. Fernandes Júnior

 

Foto: Registro de 11 de dezembro de 1988, no antigo Estádio Sílvio Salles, no jogo contra o Rio Preto, onde o Grêmio Catanduvense venceu por 1 X 0. No fundo, podemos perceber a empolgação da torcida, com suas bandeiras brancas e vermelhas

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.