Ascensão gremista de 1988 (I)
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Quem acompanhou os jogos nos seis primeiros meses de 1988 jamais poderia imaginar que o time de Catanduva seria, no final da competição, uma das duas equipes que conquistariam o sonhado acesso à primeira divisão no ano seguinte. O Grêmio ocupava a penúltima colocação. Em 16 partidas, conseguiu apenas três vitórias. Foram oito empates e cinco derrotas nos outros 13 jogos.
Aquilo que começara em 1987, se consolidaria no ano seguinte. O então prefeito municipal, José Alfredo Luiz Jorge, assumiu o comando do Grêmio Esportivo Catanduvense, que não media esforços para que o Grêmio não fosse rebaixado em seu último ano como governante.
Para assumir o cargo, José Alfredo precisou destituir o então presidente Renato Frati.
Como não podia acumular os cargos de chefe do executivo na cidade e presidente do time, o ex-prefeito convidou seu amigo pessoal, Nelson João Teixeira, para figurar na presidência do Grêmio, enquanto, na verdade, era ele quem dava as cartas.
Nada satisfeito com a campanha do primeiro semestre, o então prefeito iniciou uma verdadeira reformulação no Grêmio Esportivo Catanduvense, com jogadores dispensados, nova comissão técnica e muitas contratações importantes.
Os investimentos deram resultado rapidamente e as vitórias chegaram uma atrás da outra. O Grêmio Esportivo Catanduvense começou a atuar muito bem. Nesta nova fase da equipe, que começou a partir da metade de julho de 1988, o Grêmio só foi sofrer uma derrota no final do mês de outubro, perdendo de 1 X 0 para o Comercial, de Ribeirão Preto. Até então houve trezes jogos, com nove vitórias e quatro empates.
Nessa fase, o Clube Atlético Bragantino, de Bragança Paulista, já começava a se destacar e carregar certo favoritismo para o título da segunda divisão.
Perder ganhando
Após a partida entre o Grêmio e o Corinthians de Prudente, começaria a fase que classificaria duas equipes para a primeira divisão no ano seguinte. Seriam formadas duas chaves de seis times cada: o Grupo 3 e o Grupo 4. O campeão desses grupos conquistaria o acesso à primeira divisão no ano seguinte. O Grêmio Esportivo Catanduvense iria para a chave do Bragantino se vencesse o jogo. Se houvesse empate, era o time de Prudente que disputaria com o time de Bragança a vaga na primeira divisão.
De acordo com José Alfredo, em relato no livro “Paixão Futebol Clube: as alegrias e tristezas do esporte mais popular do país em Catanduva”, de autoria de Andreza Davanzo, Enio F. Franco, Fabiana Helena Soligo e Fernando R. Fernandes Júnior, este relata que “estava tudo previsto. Ninguém queria cair na chave do Bragantino. Se eles (jogadores do Corinthians de Presidente Prudente) fizessem um gol contra, para perder o jogo, nós faríamos outro gol contra e empataríamos a partida. Mas havia o receio de que, antes disso, eles abandonariam o jogo, para perder a partida. O goleiro deles, num momento do jogo, estava lendo jornal. A bola foi chutada contra o próprio gol pelos jogadores do Prudente. Por sorte nossa, ela não entrou. Passou raspando. Nós batemos escanteio para o nosso goleiro e aí a torcida invadiu o campo”.
Pela falta de segurança, ocasionada pela invasão da torcida, o árbitro encerrou o jogo. Com 0 X 0, o Corinthians de Presidente Prudente classificou-se para a próxima fase da competição no Grupo 4, o mesmo do Bragantino. O Grêmio foi para a outra chave, teoricamente, com mais chance de conquistar o acesso.
A invasão do estádio Sílvio Salles pela torcida trouxe alguns problemas para os diretores de Catanduva: pelo regulamento do Campeonato Paulista da Segunda Divisão de 1988, a equipe mandante que tivesse o estádio invadido por torcedores perderia cinco pontos na tabela de classificação por falta de segurança. Porém, com uma boa articulação política na FPF – Federação Paulista de Futebol – José Alfredo conseguiu evitar a punição.
O “Burro da Central”
O grande adversário do Grêmio Esportivo Catanduvense na nova fase seguinte do campeonato foi o time de Taubaté, mais conhecido como o “Burro da Central”, que também tinha grande chance de conquistar o acesso à primeira divisão, pois além de contar com uma boa equipe dentro de campo, o Taubaté tinha muita força política dentro da Federação Paulista.
De acordo com informações de José Alfredo, no livro já citado, relata que “conforme o campeonato foi afunilando, nós descobrimos que, nos bastidores da FPF, havia um movimento para subir à primeira divisão o Bragantino, que além de uma grande equipe em campo tinha como presidente o Nabi Abi Chedid, e o Taubaté, porque em 1988 era o último ano de Reinaldo Carneiro Bastos, tradicional secretário da Federação Paulista, como presidente do “Burro da Central”.
Com duas rodadas de antecedência, o Bragantino já havia conquistado o primeiro lugar de seu grupo, além de que havia assegurado uma vaga na primeira divisão do ano seguinte, bem como uma vaga na final da segunda divisão de 1988.
A situação no Grupo 3 estava muito equilibrada. Grêmio e Taubaté lutavam ponto a ponto para conquistar a classificação. No dia 4 de dezembro aconteceu a penúltima partida da chave: no estádio Joaquim de Moraes Filho, em Taubaté, o “Burro da Central” enfrentou o Grêmio Esportivo Catanduvense. O time de Catanduva somava 12 pontos e o Taubaté 11. Com uma vitória, a equipe de Taubaté passaria o Grêmio e assumiria a liderança do grupo.
Preocupado com um possível favorecimento da arbitragem de Taubaté, o dirigente gremista José Alfredo afirma que teve que gastar muito dinheiro para inibir as articulações nos bastidores contra o Grêmio.
“Depositamos, mais ou menos, o equivalente a 12 mil reais para garantir a renda do jogo e assegurar a transmissão ao vivo da partida pela TV Cultura, que transmitia os jogos naquela época, e ainda pagamos para o Arnaldo Cezar Coelho vir do Rio de Janeiro e atuar com isenção, já que eles queriam que outros apitassem, como o José de Assis Aragão e Romualdo Arpi Filho”, afirma José Alfredo.
(Continua na próxima semana)
Por que “Burro da Central"?
Em 1954, o Esporte Clube Taubaté disputava o Campeonato Paulista da Segunda Divisão, classificando-se para a fase final. A primeira partida desta etapa foi contra o Comercial, da cidade de Ribeirão Preto, no campo do Bosque, em Taubaté.
O "Gigante do Vale", como o clube era conhecido naquela época, venceu o Comercial por 6 a 3. Porém, na ocasião, o atacante Alcino entrou em campo sem estar com a sua documentação regularizada junto a FPF. Por este motivo, o Comercial pleiteou os pontos da derrota, sendo prontamente atendido pela entidade esportiva.
Com isto, uma charge no diário esportivo “A Gazeta Esportiva” se referiu ao Taubaté com o desenho de um burro. O animal, que seria motivo de chacota pelas torcidas adversárias, foi carinhosamente adotada pela torcida taubateana.
A denominação "Burro da Central" já existia desde 1955, ano em que se encerrou o Campeonato Paulista da Segunda Divisão de 1954. Desde o início, o apelido era "Burro da Central", pelo fato de passar por Taubaté a Estrada de Ferro Central do Brasil. Assim como já existiam a "Pantera da Mogiana" (Botafogo de Ribeirão Preto), o "Elefante da Noroeste" (C.A. Linense), também foi colocado no E.C.Taubaté, pelo jornalista Thomaz Mazzoni do jornal "A Gazeta Esportiva", o apelido de "Burro da Central".
Desta forma, os torcedores adotaram o burro como mascote em camisas, bandeiras, adesivos e faixas.
Fonte de pesquisa:
Livro-reportagem “Paixão Futebol Clube: as alegrias e tristezas do esporte mais popular do país em Catanduva”, de autoria de Andreza Davanzo, Enio F. Franco, Fabiana Helena Soligo e Fernando R. Fernandes Júnior
Foto:
Time do Grêmio Esportivo Catanduvense em 1987, no antigo Estádio Sílvio Salles. Estão de pé e da esquerda para a direita: Dr. Geraldo Ruette, Dr. Renato Fratti, Pavão, Zinho, Amarildo, Brecha, Jandaia, Eduardo, Laurindo, Brida e Nenê. Agachados: Gilson Batata, Roger, Silva, Omar e Cabé
Autor
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