As variedades dos fósseis catanduvenses

Catanduva sempre contou com pessoas entusiastas: quer no campo do esporte, da cultura, da arte, quer da educação, da política e da saúde. No que diz respeito aos museus em Catanduva e na pesquisa paleontológica, um nome se destaca em nossa cidade: o do professor Paschoal Turatto, grande pesquisador que nossa cidade conheceu.

Paschoal Roberto Turatto nasceu no dia 27 de agosto de 1928 em Jaguariuna, município de Amparo – SP, onde teve uma infância simples.

Quando terminou o Curso Científico, ingressou na PUC – Campinas frequentando, simultaneamente, os cursos de História e Geografia, concluindo seus estudos na USP, em São Paulo.

Logo após sua formação, Paschoal já demonstrava grande influência entre a sociedade de sua época. Nos anos de 1950, passou em concurso para exercer a função de oficial de gabinete do governo no território de Rio Branco, que pela distância, não quis assumir. Também foi convidado para ser oficial do palácio em Tocantins, na ocasião da criação do Estado, mas também recusou a proposta. Ainda recebeu o convite do governador do Mato Grosso, Pedro Pedrossian, para atuar na Universidade de Dourados, onde enviou dois de seus ex-alunos.

Após todas as negativas, Paschoal lecionou em cursos de preparação para vestibulares da faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Mackenzie, além ministrar aulas na USP e na PUC – Campinas.

Catanduva

Transferiu-se para Catanduva no ano de 1952, para lecionar no Colégio Estadual e Escola Normal Dr. Adhemar de Barros, hoje Barão do Rio Branco.

Teve grande destaque em nossa cidade como paleontólogo, fazendo várias pesquisas regionais. Um de seus primeiros achados em nossa região foi um dente de animal que foi atribuído como sendo um dente de dinossauro.

A partir dos anos 60, cada vez mais Paschoal Turatto foi se envolvendo nos assuntos ligados à paleontologia, descobrindo vários sítios arqueológicos na região, como por exemplo, à margem da Estrada de Ferro na Vila Motta, ou ainda na cidade de Fernando Prestes, além de chegar a encontrar um “eusuco”, ou seja, um dinossauro de 7 a 8 metros, encontrado em nossa cidade. Um de seus últimos achados foi um dinossauro Antartossauro, que media, aproximadamente, 25 metros de comprimento, encontrado no município de Uchôa.

Dentre sua produção, o professor escreveu mais de trinta livros, onde um de seus livros, “Aníbal Vieira – O Lampião Paulista” quase acabou virando novela do SBT, não sendo autorizado pelo professor.

Museu paleontológico

Das contribuições do professor em Catanduva, uma merece ser lembrada e digna de elogio: a criação do Museu Paleontológico do Prof.º Paschoal Turatto, que continha coleções de fósseis da região, além de inúmeras peças históricas e arqueológicas. O museu funcionava na própria casa do professor Turatto.

Vários meios de comunicação demonstraram a importância desse museu, como emissoras de rádio, jornais e até um programa especial na TV Cultura, além do professor deixar vários registros em revistas e jornais que escrevia.

Descaso

Interessante é perceber o descaso das autoridades locais da época em relação ao Museu de Paleontologia. O professor sempre pedia ajuda municipal para a instalação do museu, onde várias promessas foram feitas em relação a isso. Mas como em nosso país a cultura sempre acaba ficando para segundo ou terceiro plano, esse auxílio nunca veio a se realizar. E ainda quando conseguia algumas respostas, estas ainda eram “vamos ver se conseguimos um lugarzinho na Fafica” ou “vamos arrumar uma salinha no Museu Pedro de Toledo”, utilizando as palavras no diminutivo como forma de descaso para com o museu.

E infelizmente, após o ano de 2002, Catanduva vem perder dois objetos valiosos: o primeiro, o próprio professor Paschoal Turatto que faleceu no dia 24 de abril de 2002; e o segundo, todo o acervo que continha em seu museu.

De acordo com o “Boletim Só 10”, do professor Sérgio Bolinelli, este relata que “(...) não demorou muito para que a família, precisando de recursos, vendeu, como se diz, de ‘porteira fechada’ todo o acervo a uma firma de italianos, a empresa Modern Continental Brasil que, na época, se comprometia em conservá-lo e colocá-lo a visitação pública, pois iriam construir um Parque Temático nos Thermas de Ibirá. Porém, como a Prefeitura de Ibirá e a empresa entraram em litígio judicial para rescisão de contrato, tudo ficou paralisado e sem perspectivas de retomada”.

Diante disso, não se sabe onde as antigas peças do professor Turatto estão armazenadas.

Nesse momento, só temos certeza de uma coisa: está guarda dentro da lembrança de quem conviveu e presenciou a tão bela coleção do professor.

Entusiastas

E por falar em entusiastas, durante as obras de duplicação da rodovia Comendador Pedro Monteleone, a ‘Rodovia da Laranja’ (SP-351), em 2011, grande quantidade de rocha foi removida para a construção de uma ponte em um dos trevos de acesso a Catanduva. Na época, os entusiastas Edvaldo Fabiano dos Santos e Laércio Fernando Doro decidiram realizar trabalho sistemático de prospecção junto aos blocos removidos de rocha e, a partir disso, vários fósseis foram encontrados.

A parceria com o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori resultou na descoberta de mais materiais e no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos, onde foi identificada a presença de restos de conchas, peixes, anuros, tartarugas, crocodilos e dinossauros.

Em estudo publicado este mês na revista científica internacional “Historical Biology”, foi apresentada uma espécie inédita de crocodilo do Período Cretáceo, o Caipirasuchus catanduvensis.

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores Fabiano V. Iori (Museu de Paleontologia Pedro Candolo e Museu de Paleontologia “Prof. Antonio Celso de Arruda Campos”) Aline M. Ghilardi

(UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Marcelo A. Fernandes (UFSCar – Universidade Federal de São Carlos) e Willian A. F. Dias.

O Caipirasuchus (crocodilo caipira) viveu por volta de 85 milhões de anos atrás, conviveu com os grandes dinossauros e com diversas outras espécies de crocodilos. Atingiam 1,2m de comprimento, eram animais de hábitos terrestres e curiosamente se alimentavam de plantas.

Fonte de Pesquisa:

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico “Padre Albino”

Fotos:

Fóssil do Caipirasuchus catanduvensis, uma espécie inédita, foi encontrado em 2011 em Catanduva, por isso leva o termo catanduvensis no nome

Paschoal Turatto sempre esteve envolvido com pesquisas paleontológicas, descobrindo vários fósseis em Catanduva e região

Várias foram as promessas feitas pelas autoridades municipais de fornecer um lugar para a fixação do Museu Paleontológico; porém, essas promessas nunca se realizaram

O professor Paschoal Turatto, além de ser fascinado pela sua profissão, gostava muito de cultivar plantas dos mais variados tipos

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.