As mães e seus bebês

Após o nascimento de um filho a mãe passa por um período delicado e importante que dura cerca de dois anos, e trata-se de um momento emocional que a insere numa jornada individual trazendo mudanças nas relações familiares.

O puerpério emocional descreve as mudanças internas que ocorrem na mãe, e quando não vivenciados de forma cuidadosa, facilitam o aparecimento de sintomas como: tristeza, ansiedade, irritabilidade, cansaço, insônia, dificuldade de concentração, e são sentimentos que poderão se intensificar pela pressão de ter que dar conta.

Durante esse período, a mãe vivencia situações que vão além das mudanças de papel e identidade onde o excesso de afazeres, as alterações hormonais e preocupações com seu bebê poderão deixá-la exausta, muitas vezes não conseguindo conciliar as demandas sociais que antes eram fáceis de administrar.

Se os pais já têm filhos, vale redobrar o cuidado, pois, além da mãe ter que amamentar, dedicar-se aos outros filhos consome energia num período já cheio de alterações hormonais que foram ocasionados pela gravidez, parto e amamentação. 

Uma das melhores formas de lidar com a situação é obter apoio de amigos e familiares que devem oferecer ajuda sem forçar hábitos ou entrando na intimidade e rotina da família, mas se colocando à disposição de maneira que deixe a mãe confortável para estabelecer limites e dizer não sem constrangimento.

Os familiares devem respeitar as regras considerando que cada núcleo se constitui a partir da formação de uma dupla, e irmãos, pais, sogros, tios devem saber exatamente o seu lugar nesta família.

Com o nascimento do bebê, a nova mãe deste filho deverá abrir espaço para entender como esta dupla vai funcionar, sendo um período marcado pelo reconhecimento e adaptação.

Não se trata apenas de mudanças externas, mas de receptividade, holding e sensibilidade para entender como tudo vai acontecer exigindo paciência, olhar atento, reconstrução, e quando não respeitados, sintomas poderão se agravar sendo necessário a mãe desacelerar, fazer pausas, respeitando a própria individualidade diante das demandas.

Parentes próximos quando moram na mesma cidade devem oferecer ajuda sem invadir, deixando a critério dos pais decidir a necessidade ou não de colaboração. Mesmo assim, deverão realizar visitas rápidas sem conflitos de opinião, aguardando serem requisitados, se colocando à disposição sem invadir.

O período deve ser entendido como uma reorganização interna e externa que não deve de forma alguma ser motivo de pressão, mas entendido por todos como necessário.

Não é sobre fazer para a mãe, é sobre se colocar à disposição, respeitar suas decisões, e estar tudo bem da forma que for. Sem rupturas, cobranças, invasão e imposições.

Música “Blue Moon” com Flora Martinez.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br