As Folhas da Árvore. As Gotas do Oceano

Um dia eu olhei e vi… 

Ela – a árvore – me disse que eu olhasse para as suas folhas, e eu o fiz. Surpreendi-me com a quantidade delas. Do largo tronco que se elevava em direção ao céu presumi muitos galhos ocultos atrás e por baixo da sua copa. Algumas frestas entre a folhagem permitiam-me ver faixas de alguns galhos dos quais outros, menores, projetavam-se e, depois, subdividiam-se.

E recobrindo toda essa estrutura repleta de bifurcações, centenas, talvez milhares de folhas. O vento, amigo das árvores, acariciava-a com alguma suavidade, e a força dele fazia mexerem-se os galhos, em movimentos mais ou menos amplos conforme fossem eles mais próximos do tronco e, assim, mas grossos, ou mais distantes, e portanto mais flexíveis…  

Deu-me a sensação de mar, de oceano, daquela estranha capacidade que a água tem de ser uma coisa só, no conjunto, mas de ser tantas pequenas ondulações aparentemente contraditórias entre si, e que parecem fazer uma dança de complexa harmonia, especialmente quando cada pequeno monte de água se eleva, no balanço contínuo, e reflete, por um segundo, a luz do sol. E cada pequena ondulação, como se fosse um galho de árvore, constituído por tantas gotas, as folhas do mar.  

Foi então que eu entendi:  

Estamos conectados essencialmente uns aos outros como as folhas dos galhos de uma grande árvore estão ligadas entre si pelos ramos dos quais elas próprias se originam. A seiva que alimenta a árvore é a mesma para todas as suas folhas. A nossa conexão uns com os outros é tão grandiosa quanto antiga, e ainda assim é imperceptível para a maioria de nós. 

Assim como todas as estruturas e partes de uma árvore tem origem na mesma raiz, na mesma semente, assim também acontece conosco: somos todos filhos da Mãe Terra – poderão dizer os materialistas inspirados - ou do Pai Celestial – dirão os místicos. De qualquer modo, a fonte é a mesma e por isso é importante reconhecer que somos todos irmãos. E esse reconhecimento dessa condição de fraternidade pode se tornar a motivação da transformação das nossas condutas e, assim, do mundo em que vivemos, o nosso lar comum. 

Autor

Wagner Ramos de Quadros
É presidente da ARCOS e articulista de O Regional.