As datas das quais não nos recordamos

Alguns de nós têm boa memória. Outros nem tão boa, quando não totalmente ruim. O fato é que todos nos recordamos de alguma data específica. A do próprio aniversário é com certeza aquela que está na ponta da língua e dos neurônios. Outras, talvez, efemérides públicas, como o Natal, a Independência do Brasil ou algum dia aleatório como o Dia da Sogra também são datas com as quais temos maior intimidade.

No entanto, há datas mil vezes mais importantes: dias que significam muito para nós e para outras pessoas as quais teoricamente queremos bem. Dias cuja comemoração ou lembrança muitas vezes são marteladas e esmigalhadas pelo esquecimento mais ou menos arbitrário da nossa cognição igualmente falha.

Mas se, por exemplo, nos recordamos do Dia da Revolução Constitucionalista, comemorada no próximo 9 de Julho, por quê nos esquecemos do dia do aniversário de namoro ou casamento ou mesmo a data que marca o dia em que tomamos tal ou qual decisão que mudou absolutamente o rumo das nossas vidas?

Os psicólogos com certeza dirão que nosso inconsciente caprichoso muitas vezes seleciona, com base nos seus próprios e muitas vezes insondáveis motivos, aquilo que vamos nos recordar por conta da força das impressões momentâneas ou mesmo de recalques e repressões que nosso consciente insiste em não avaliar.

Então, para além de qualquer problema clínico de perda de memória, se conscientemente digo para mim que uma data é importantíssima e mesmo assim dela eu não me lembro e, antes, paralelamente, me recordo de assuntos sem qualquer relevância aparente, uma conclusão é óbvia: em verdade, eu não me importo tanto assim com o assunto fundamental da data em questão.

Retiradas de cena todas as explicações sensatas que podem colocar a culpa nas nossas faculdades e potências mentais ou mesmo na falta de precaução e organização em anotar os fatos subjetivos da existência, resta apenas nosso mundinho interior verdadeiro e sua dinâmica bem mais realista, que qualifica objetivamente aquilo que para nós é relevante e ou irrelevante.

Você insistentemente se esquece daquela data? Ora, será que no fundo não quererá se esquecer da pessoa ou da instituição ou do evento associado ao dia marcado no calendário? Pense nisto. As datas são um valioso critério existencial.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor