As complexidades do amor materno

Enquanto pedalava pelas ruas movimentadas, meu olhar casualmente pousou em um imponente outdoor adornado com uma mensagem que dizia: "Mães têm o maior amor do mundo". Uma afirmação poderosa, sem dúvida. No entanto, essa simples frase gerou um turbilhão de pensamentos em minha mente inquisitiva.

É inegável o amor que muitas mães têm por seus filhos. Desde os primórdios da humanidade, as mães foram retratadas como seres de sacrifício, nutrição e proteção. Seu vínculo emocional com suas crianças muitas vezes transcende as barreiras da compreensão. No entanto, diante dessa glorificação do amor materno, é crucial lembrar que as mães são seres humanos complexos, suscetíveis a uma miríade de emoções e experiências.

É fácil cair na armadilha do idealismo ao falar sobre o amor materno, mas devemos reconhecer que nem todas as mães se encaixam nesse molde idealizado. Infelizmente, algumas mães sofrem de doenças mentais que podem distorcer sua percepção da realidade e influenciar suas ações de maneiras profundas e, às vezes, prejudiciais.

A narrativa popular frequentemente retrata mães como seres infalíveis, incapazes de causar qualquer dano a seus filhos. No entanto, a realidade é muito mais complexa. Existem casos documentados de mães que, devido a doenças mentais não tratadas ou a circunstâncias traumáticas, cometeram atrocidades contra seus próprios filhos.

Um exemplo recente que ilustra essa complexidade ocorreu durante a vigésima quarta edição do reality show Big Brother Brasil (BBB 24). Durante uma conversa no gramado do programa, a participante Fernanda, em um momento de franca sinceridade, afirmou a outro participante que, às vezes, sentia vontade de "jogar os filhos pela janela". Esse comentário provocou uma onda de choque e debate entre os telespectadores, destacando a importância de reconhecer e abordar as lutas internas que algumas mães enfrentam.

Esses eventos horríveis não devem ser usados para desacreditar o amor materno como um todo, mas sim para nos lembrar da importância de uma abordagem mais compassiva e holística ao discutir a maternidade. Precisamos reconhecer que as mães são vulneráveis a uma série de desafios físicos, emocionais e mentais que podem afetar sua capacidade de amar e cuidar de seus filhos de maneira saudável e oferecer suporte adequado àquelas que estão enfrentando dificuldades.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp