As comemorações de Corpus Christi

Na última quinta-feira, dia 30 de maio, comemoramos o feriado de Corpus Christi, expressão latina que sigifica “Corpo de Cristo”.

É um evento baseado nas tradições católicas, realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes.

Uma das principais características dessa comemoração é a realização de grandes procissões, pelas vias públicas, atendendo a recomendação do Código de Direito Canônico, que determina que o bispo diocesano providencie, onde for possível, “(...) para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo”. Além disso, nestas datas, é recomendado que o bispo não se ausente da diocese, a não ser por motivo grave.

História

A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta o século XIII. A Igreja Católica sentiu a necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. A festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, através da bula “Transiturus de hoc mundo”, de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, através de uma grande solenidade em honra do Corpo do Senhor.

Através de sua solicitação, os objetos milagrosos foram levados para a cidade de Orviedo, em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico.

A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo (...) isto é o meu sangue (...) fazei isto em memória de mim”. Segundo Santo Agostinho, é um memorial de imenso benefício para os fiéis, deixado nas formas visíveis do pão e do vinho.

Como a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez em uma quinta-feira, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira, comemorado sempre sessenta dias após a Páscoa.

A festa no Brasil

Em muitas cidades portuguesas e brasileiras, é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Esta festividade de longa data se constituiu uma tradição no Brasil, principalmente nas “cidades históricas”, que se revestem de práticas antigas e tradicionais e que são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.

A tradição da confecção do tapete surgiu em Portugal e veio para o Brasil com os colonizadores. Os desenhos utilizados são variados, mas enfocam, principalmente, o tema da Eucaristia.

Catanduva

Assim como muitas cidades do Brasil, Catanduva também teve uma tradição nas comemorações do Corpus Christi.

Como exemplo disso, podemos citar a comemoração da festa no ano de 1965, onde foi possível perceber os lindos tapetes espalhados pelas ruas centrais de Catanduva.

O jornal “A Cidade”, de 19 de junho de 1965, trazia uma matéria intitulada “Procissão de Corpus Christi foi um magnífico espetáculo”, traz em seu começo: “Revestiu-se de brilhantismo incomum a procissão de Corpus Christi, magnífico espetáculo de fé no qual tomaram parte milhares de pessoas numa demonstração inequívoca de que cresce continuadamente a religiosidade dos catanduvenses”.

Além de toda a beleza espiritual do evento, a arte material dessa comemoração, em 1965, foi espetacular, onde todas as ruas do trajeto ficaram decoradas com os famosos tapetes.

Pela primeira vez em Catanduva a Praça 1º de Maio, a Rua Brasil e a Praça da Matriz apresentaram-se decoradas à altura da cidade de Matão – SP, que sempre se destacou no que diz respeito aos enfeites.

A procissão caminhou sobre o extenso tapete decorativo ao longo do qual, de espaço em espaço, podiam-se ver os desenhos sugestivos de quadros feitos com materiais diversos, como pó de serra, vidro moído e farinha de mandioca, tudo em cores vivas e brilhantes.

O primeiro e maior desses quadros, elaborado pelo engenheiro João Righini, localizou-se na esplanada da Estação, seguindo-se vários outros menores, rumo à Igreja Matriz de São Domingos.

A iniciativa da ornamentação foi da professora Janete Maria Monteleone, que foi muito dedicada na preparação de tudo, juntamente com o Sr. Odilon de Castro, que também colaborou muito para a realização do evento. Vale lembrar que inúmeras pessoas e comerciantes também colaboraram para o evento.

Com o passar dos anos e com o aumento do número de paróquias na cidade, cada igreja foi comemorando o seu próprio Corpus Christi, não tendo mais uma procissão unificada como tínhamos em anos anteriores.

Fonte de Pesquisa:

- Jornal “A Cidade”, de 19 de junho de 1965.

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

Altar montado em frente a Estação Ferroviária de Catanduva, em 1965, local onde foi dado a benção aos fiéis que acompanhavam a procissão

Painel montado na Rua Brasil, sobre a ponte do Rio São Domingos, em 1965, por onde a procissão iria passar

Trecho da Rua Brasil, no sentido da Estação Ferroviária de Catanduva, totalmente decorada para a procissão (1965)

Painel decorativo na Rua Brasil, próximo à Praça Monsenhor Albino, onde do lado direito é possível ver as casas da época e do lado esquerdo, parte da Igreja Matriz de São Domingos (1965)

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.