Arte: celebração da vida

Sempre tenho medo de que impeçam vocês de imaginar, de sonhar, de voar. Tenho medo dos cínicos, dos grosseiros, dos desleixados de olhar desabusado... Eu creio na generosidade da representação e da ação.”

Ariane Mnouchkine

Diretora teatral do Théâtre du Soleil, França.

 

Em carta endereçada aos alunos de teatro do Ensatt¹, em 2013, a diretora teatral Ariane Mnouchkine deixa uma série de conselhos importantes aos jovens artistas recém-chegados ao curso. Com toda autoridade de uma das mais reverenciadas operárias do bom teatro, conhecida em todo mundo, Ariane tem preocupações sobre a essência da arte de representar e que abrange todas as formas de expressão artística: o humano.

Não é à toa que a Cia da Casa Amarela se identifica, dramaturgicamente, esteticamente e conceitualmente com a cia teatral francesa e sua condutora.

Hoje, dia 3 de dezembro, realizaremos nossa última apresentação teatral em 2022. Às 20:00 h estaremos no Teatro Municipal Aniz Pachá, com a premiada e elogiada peça teatral “Nina e Carambola”, um dos mais espetáculos mais marcantes da Cia da Casa Amarela. O evento faz parte da Mostra de Artes Cênicas, de Catanduva. Entrada franca.

Sobre “Nina e Carambola”, assim se manifestou um dos maiores críticos e estudiosos do teatro brasileiro, Sebastião Milaré²: “Drika e Carlinhos construíram uma fábula sobre aceitação do outro, do diferente, tema essencial nestes dias marcados pela dificuldade em se conviver com as ‘diferenças’. Eles reafirmaram a alta qualidade artística da Cia da Casa Amarela. ‘Nina e Carambola’, obra poética e inteligente que respeita e honra a inteligência do público a que se destina”.

O texto de Milaré reflete bem o que é nossa peça e ao mesmo tempo sintetiza o imo do nosso trabalho ao longo de 27 anos: a preocupação com o ser, sua sensibilização e uma proposta de crescimento integral.

Também tememos os cínicos e grosseiros, mas não nos deixamos influenciar pelos que queiram nos desestimular e tentem nos impedir de imaginar, sonhar e voar.

O ano caminha para seu final com um balanço positivo, pelo menos para nós da Cia da Casa Amarela. Ainda estamos muito distantes do que era a vida cultural em nosso

país antes da pandemia e mesmo antes de 2018. De lá para cá, tudo ficou mais difícil e os anos de pandemia foram terríveis para a classe artística.

No entanto, voltamos neste ano com o trabalho presencial, agenda repleta de trabalhos – repetindo: muito aquém do que era nossa atividade antes, mas podemos afirmar que o trabalho sério, de pesquisa profunda, de sensibilidade e de dramaturgia diferenciada nos colocou num processo importante de retomada.

Porém, há muito o que se fazer para 2023.

Não importam as afrontas e desafios, nem listas de boicote e muito menos a falta de apoio, pois uma certeza permanece: sonhamos e queremos voar, mais e mais e sempre!

Mais do que nunca, a humanidade precisa projetar seus voos e alçar bem alto num novo tempo que se descortina. É isso o que passamos para nosso público, nossos alunos e artistas que trabalham conosco ou se inspiram, de alguma forma, em nosso traalho.

Hoje, com “Nina e Carambola”, estaremos conectados com a generosidade, a ação em prol do outro, a convivência com as diferenças e convidamos a todos para que hoje, no Teatro Aniz Pachá, celebremos a retomada, a superação, a aceitação do outro, enfim, comemoremos a vida!

 

1 - Ensatt: École Nationale Supérieuse des Arts et Techniques du Théâtre.

2 - Sebastião Milaré: Crítico Teatral. São Paulo. (1945-2014)

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.