Arca de Noé, animação é baseada em músicas de Vinícius de Moraes

A animação Arca de Noé, que estreou nessa quinta nas salas do Grupo Cine, no Shopping, é uma das mais ambiciosas produções do cinema brasileiro. Dirigida por Sérgio Machado (Rio do Desejo, Cidade Baixa) e Alois Di Leo é inspirada na obra de Vinicius de Moraes, a com um elenco de dubladores famosos. O roteiro foi imaginado a partir dos poemas do livro e disco homônimos de Vinícius, lançados em 1980 e 81. Com certeza, é uma das animações mais ambiciosas já produzidas no país.

Como o título entrega, a trama conta a história dos animais do dilúvio bíblico a bordo da Arca de Noé. A história segue dois ratos boêmios, Vini e Tom –os nomes prestam homenagem a Vinícius de Moraes e Tom Jobim – dublados por Rodrigo Santoro (Vini) e Marcelo Adnet (Tom). Eles sonham em ser músicos famosos.

Quando descobrem que um dilúvio está prestes a cair e que apenas um macho e uma fêmea de cada espécie serão permitidos na Arca, entram em desespero para se salvar juntos. Tom consegue entrar na arca, mas Vini fica de fora e é salvo pela atrapalhada barata Alfonso (Gregorio Duvivier). Dentro da arca, eles enfrentam a tirania do leão Baruk (Lázarus Ramos) e participam de um concurso musical para provar seu valor e garantir sua sobrevivência.

A animação começa com “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada” que vira metáfora de questões sociais sobre moradia. A narrativa, apesar de sua origem bíblica, ganha tons brasileiros, com muitas referências à cultura e ao imaginário nacionais.

O dilúvio centraliza a ação a partir do momento em que o velho Noé (Julio Andrade), recebe de Deus (com o vozerão de Seu Jorge) a missão de levar à Arca para repovoar o mundo. Tom e Vini acabam se separando, mas, após algumas aventuras, se reencontram na Arca. A jornada pelo mundo coberto pelas águas não é sem conflitos. Os bichos da Arca disputam o pouco espaço e comida a bordo, mas os conflitos são apresentados de uma forma divertida e cômica – afinal, é uma animação infantil, quase sempre através das músicas. Um concurso de canção entre os animais, serve de pretexto para apresentar mais músicas do álbum, como O Pato (cantada por Russo Passapusso) ou Galinha d’Angola (cantada por Larissa Luz). Outras vozes e personagens compõem a bicharada, como Nina (Alice Braga), uma ratinha engenhosa, Kilgore (Bruno Glagiasso), uma andorinha e Ingrid Guimarães como Sônia, a pomba, e Heloisa Périssé, a Furona, para ficar em apenas alguns nomes.

Realizado com apuro técnico, Arca de Noé foi, curiosamente, coproduzido por Brasil e Índia, país com uma grande experiência em animação.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.