Após a noite escura...

O Ministério da Cultura anunciou no último dia 25 de outubro, o programa de R$ 15 bilhões na chamada Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que garante repasse de recursos para estados, municípios e o Distrito Federal até o ano de 2027.

Apenas para contextualizar, a Lei Aldir Blanc – em homenagem ao grande compositor brasileiro vitimado fatalmente pela covid-19–, surgiu como um socorro à imensa classe artística brasileira, numa iniciativa da deputada Benedita da Silva e foi amplamente abraçada pela Câmara dos Deputados e Senado, muito embora o ex-presidente em exercício naquele período (2020) tenha vetado o projeto. A causa ganhou folego e acabou por ser aprovada e beneficiou milhares de trabalhadores da cultura.

No entanto, foi preciso mais. Muito mais! Veio a Aldir Blanc 2 e a Lei do Audiovisual que leva o nome do comediante Paulo Gustavo que também, infelizmente, foi vítima da pandemia.

Toda essa luta foi essencial para a sobrevivência dos artistas e da cultura nacional, abandonados a partir de 2018 com a extinção do Ministério da Cultura e pela falta de política cultural do governo Bolsonaro. Não foi somente o fim do Ministério. Foram também as perseguições à classe artística, o descaso com os trabalhares do setor, as diversas confusões dos ex-secretários da cultura, já que o ministério foi reduzido à uma simples secretaria.

Não se poderia esperar algo diferente de uma fonte insensível à Arte. Durante a pandemia que teve início em 2020, artistas se viram sem possibilidade de trabalho já que o presencial era insustentável. Era necessária uma injeção de recursos para o setor e isso veio. Com problemas, limitações, em alguns casos má administração da verba, no entanto sobrevivemos!

Como em países ricos, o Brasil possibilitou uma lei emergencial para o respiro dos artistas e continuidade de trabalhos.

Agora, o governo Lula reacende a esperança para uma classe que ainda se reergue, pois seria ilusão acreditar que a volta do presencial solucionou o problema. Vivemos hoje uma realidade muito diferente, pois o público mudou. Dois anos sem vida cultural plena, as pessoas se acostumaram com o digital e relutam inclusive a voltarem ao cinema, ao teatro, aos eventos culturais.

Uma nova geração surgiu sem a vivência da interação com o artista ao vivo e passou a cultuar os personagens que surgem, diariamente, na internet.

Além do mais, as políticas culturais (ou ausência delas) levou ao público eventos em massa para recuperar o tempo perdido. Mega shows, caríssimos, mas que lotam estádios e feiras, condenando projetos menores, mais intimistas, como o teatro, exposições e museus etc. ficassem fadados à minoria que sabe reconhecer sua importância.

É um longo caminho, contudo com renovada esperança. Novos investimentos na cultura surgem como um aceno de amanhã luminoso, fazendo gerar em nós artistas, novas inspirações e buscas. Que 2024 brilhe!!!

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.